Turbulência e militância
Esta foi uma semana atribulada no universo leonino. Começou com a detenção do anterior presidente Bruno de Carvalho, em mais um espetáculo deprimente em termos mediáticos e do que deveria ser a justiça num Estado de direito. Seria bom, aliás, que o Ministério Público e a PGR se pronunciassem publicamente sobre os motivos que levaram à detenção para interrogatório de Bruno de Carvalho, ou por que motivo não foi requerida a ampliação do prazo de inquérito invocando a especial complexidade do caso. O mediatismo e a justiça popular nunca foram bons conselheiros, sobretudo num clube cheio de pequenos ódios e vinganças de natureza pessoal.
Desconhecendo em absoluto os contornos do processo, não posso deixar, ainda assim, de ficar satisfeito com o facto de o anterior presidente do clube não ter ficado preso em prisão preventiva. Desde logo, porque tal é sinónimo de ter funcionado o sistema judicial e o Estado de direito. As medidas privativas da liberdade devem ser a última ratio e apenas aplicadas em circunstâncias excecionais, todas elas tipificadas na lei. Como advogado, fico satisfeito que no Barreiro houve um magistrado que não cedeu à pressão mediática. Goste-se, ou não, de Bruno de Carvalho são as nossas liberdades e garantias que estão em causa e têm de ser defendidas por todos os agentes da justiça. Dito isto, aguarde-se, pois, com serenidade o decurso do processo e qual a prova carreada e obtida pelo Ministério Público para deduzir a acusação. E, já agora, pede-se celeridade, pois o clube precisa definitivamente de encerrar no baú das suas memórias os episódios de Alcochete e o período turbulento vivido no final da última época desportiva. O encerrar deste capítulo passa, igualmente, pelos sócios se pronunciarem de forma clara em dezembro sobre as penas de suspensão aplicadas aos últimos órgãos sociais, ratificando ou revogando as penas de suspensão aplicadas. Importa que todos os sócios e adeptos do clube percebam os riscos reais de fragmentação e divisão do clube que ainda subsistem. E importa, igualmente, que todos nos pronunciemos de forma clara sobre o clube e valores que pretendemos. As próximas AG não são fundamentais para Frederico Varandas, mas sobretudo para o próprio clube.
Nesta mesma semana, a atual Direção reformulou por completo a estrutura de apoio ao futebol profissional, desde a equipa médica, responsáveis da formação, técnicos adjuntos de Marcel Keizer ou a criação da Unidade de Alto Rendimento. Trata-se de reforços importantes para uma estrutura que precisa de novas competências e uma aposta clara na formação e na melhoria do desempenho da equipa profissional. Muito do futebol moderno assenta em estruturas altamente profissionalizadas e competentes, um longo caminho que o Sporting precisa de percorrer até estar à altura dos seus rivais. Aliás, tendo em conta os constrangimentos financeiros que o clube atravessa é minha profunda convicção que apenas teremos sucesso desportivo se tivermos a capacidade de transformar o Sporting no clube mais competente e profissional do futebol português. Sem essa aposta creio que dificilmente teremos condições para vencer no futebol profissional de forma sustentada. O Sporting precisa de reformular transversalmente a sua estrutura e para tal precisa de tempo.
É neste contexto que a emissão obrigacionista colocada, esta semana, assume fulcral importância para o futuro imediato do clube, nomeadamente para fazer face às necessidades de tesouraria de curto prazo e para ter alguma margem para investir na equipa durante o mercado de inverno. Muito do sucesso do clube depende da colocação integral da referida emissão, assim se compreendendo o forcing final de Frederico Varandas para conseguir mobilizar a família sportinguista. Neste ponto é bom que todos saibamos assumir a nossa responsabilidade e entender que a recuperação do clube dependerá muito da nossa capacidade de mobilização. Não basta criticar. Não basta agitar as redes sociais ou afirmar publicamente a nossa paixão. Está na hora de todos demonstrarmos que o clube está muito acima de todos os nossos interesses individuais.
Nota final: estes órgãos sociais têm optado por uma política de comunicação pautada pela discrição e um lado muito institucional. Entendendo esta escolha, não posso deixar de alertar para os riscos de uma comunicação demasiado fria e longe do coração dos adeptos. O futebol é paixão, e é bom que alguém na estrutura entenda que a mobilização e entusiasmo dos adeptos têm de ser conquistados com uma comunicação adequada para esta indústria e que reflita adequadamente a cultura dos adeptos do clube.
Compreende-se o
forcing final de Frederico Varandas:
a emissão obrigacionista é de extrema importância