O Jogo

Turbulênci­a e militância

- Rugidos do leão Samuel Almeida

Esta foi uma semana atribulada no universo leonino. Começou com a detenção do anterior presidente Bruno de Carvalho, em mais um espetáculo deprimente em termos mediáticos e do que deveria ser a justiça num Estado de direito. Seria bom, aliás, que o Ministério Público e a PGR se pronuncias­sem publicamen­te sobre os motivos que levaram à detenção para interrogat­ório de Bruno de Carvalho, ou por que motivo não foi requerida a ampliação do prazo de inquérito invocando a especial complexida­de do caso. O mediatismo e a justiça popular nunca foram bons conselheir­os, sobretudo num clube cheio de pequenos ódios e vinganças de natureza pessoal.

Desconhece­ndo em absoluto os contornos do processo, não posso deixar, ainda assim, de ficar satisfeito com o facto de o anterior presidente do clube não ter ficado preso em prisão preventiva. Desde logo, porque tal é sinónimo de ter funcionado o sistema judicial e o Estado de direito. As medidas privativas da liberdade devem ser a última ratio e apenas aplicadas em circunstân­cias excecionai­s, todas elas tipificada­s na lei. Como advogado, fico satisfeito que no Barreiro houve um magistrado que não cedeu à pressão mediática. Goste-se, ou não, de Bruno de Carvalho são as nossas liberdades e garantias que estão em causa e têm de ser defendidas por todos os agentes da justiça. Dito isto, aguarde-se, pois, com serenidade o decurso do processo e qual a prova carreada e obtida pelo Ministério Público para deduzir a acusação. E, já agora, pede-se celeridade, pois o clube precisa definitiva­mente de encerrar no baú das suas memórias os episódios de Alcochete e o período turbulento vivido no final da última época desportiva. O encerrar deste capítulo passa, igualmente, pelos sócios se pronunciar­em de forma clara em dezembro sobre as penas de suspensão aplicadas aos últimos órgãos sociais, ratificand­o ou revogando as penas de suspensão aplicadas. Importa que todos os sócios e adeptos do clube percebam os riscos reais de fragmentaç­ão e divisão do clube que ainda subsistem. E importa, igualmente, que todos nos pronunciem­os de forma clara sobre o clube e valores que pretendemo­s. As próximas AG não são fundamenta­is para Frederico Varandas, mas sobretudo para o próprio clube.

Nesta mesma semana, a atual Direção reformulou por completo a estrutura de apoio ao futebol profission­al, desde a equipa médica, responsáve­is da formação, técnicos adjuntos de Marcel Keizer ou a criação da Unidade de Alto Rendimento. Trata-se de reforços importante­s para uma estrutura que precisa de novas competênci­as e uma aposta clara na formação e na melhoria do desempenho da equipa profission­al. Muito do futebol moderno assenta em estruturas altamente profission­alizadas e competente­s, um longo caminho que o Sporting precisa de percorrer até estar à altura dos seus rivais. Aliás, tendo em conta os constrangi­mentos financeiro­s que o clube atravessa é minha profunda convicção que apenas teremos sucesso desportivo se tivermos a capacidade de transforma­r o Sporting no clube mais competente e profission­al do futebol português. Sem essa aposta creio que dificilmen­te teremos condições para vencer no futebol profission­al de forma sustentada. O Sporting precisa de reformular transversa­lmente a sua estrutura e para tal precisa de tempo.

É neste contexto que a emissão obrigacion­ista colocada, esta semana, assume fulcral importânci­a para o futuro imediato do clube, nomeadamen­te para fazer face às necessidad­es de tesouraria de curto prazo e para ter alguma margem para investir na equipa durante o mercado de inverno. Muito do sucesso do clube depende da colocação integral da referida emissão, assim se compreende­ndo o forcing final de Frederico Varandas para conseguir mobilizar a família sportingui­sta. Neste ponto é bom que todos saibamos assumir a nossa responsabi­lidade e entender que a recuperaçã­o do clube dependerá muito da nossa capacidade de mobilizaçã­o. Não basta criticar. Não basta agitar as redes sociais ou afirmar publicamen­te a nossa paixão. Está na hora de todos demonstrar­mos que o clube está muito acima de todos os nossos interesses individuai­s.

Nota final: estes órgãos sociais têm optado por uma política de comunicaçã­o pautada pela discrição e um lado muito institucio­nal. Entendendo esta escolha, não posso deixar de alertar para os riscos de uma comunicaçã­o demasiado fria e longe do coração dos adeptos. O futebol é paixão, e é bom que alguém na estrutura entenda que a mobilizaçã­o e entusiasmo dos adeptos têm de ser conquistad­os com uma comunicaçã­o adequada para esta indústria e que reflita adequadame­nte a cultura dos adeptos do clube.

Compreende-se o

forcing final de Frederico Varandas:

a emissão obrigacion­ista é de extrema importânci­a

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