O Jogo

O Brexit é um aviso para o Benfica

- Jacinto Lucas Pires

Lá para os lados da grande ilha de onde, um dia, saíram Chaplin, os Beatles, Hitchcock, o Brexit está a revelar-se uma confusão. Não é propriamen­te uma surpresa. Ainda assim, a dimensão da coisa assusta. Por trás da trapalhada, está um cambalacho de palpites em relação ao que quer dizer “sair”, e ao “como” dessa saída. A confusão foi criada por vários tabloidism­os, populismos, snobismos e taticismos — que, por definição, preferem manchetes assassinas, slogans mimados, grandiloqu­ências da boca para fora ou meias palavras politicame­nte asséticas à discussão clara e séria de ideias sobre o futuro.

Custa-me chegar aqui, mas julgo haver algo de semelhante no momento atual do Benfica. O emaranhado de más notícias, más entrevista­s e maus jogos também parece ter por trás uma crassa falta de ideias. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que o Brexit era, desde o começo, um caso de “perder ou perder” (asterisco: uso uma versão livre da tal “tradução” que Umberto Eco descobriu ser a língua oficial da União Europeia). E, sim, queridos leitores: neste meio caminho da época, o Glorioso parece preso numa armadilha desse género. Já disse o que tinha a dizer, noutras crónicas, sobre a falta de nível e de visão da Direção do clube. Mas a questão está feia também no relvado. Os últimos jogos oscilaram entre o triste e o tristonho. Mesmo quando ganhamos, dá a impressão de que foi rés-vés Campo de Ourique; que, apesar de benigno, foi outro susto. Até partidas de onde levamos os três pontos da praxe acabam por deixar uma imagem de esforços desnecessá­rios, nervoseira em excesso e falhas coletivas maquilhada­s por rasgos individuai­s.

Sou um agnóstico otimista e não ponho de parte a hipótese de o míster produzir um milagre durante esta pausa das seleções. Imaginem comigo, por favor, caros amigos, a reinventad­a personagem de um bom português com uma cabeça guardioliz­ada, uns óculos kloppianos e umas tiradas bielsistas a desenhar uma ideia sólida para o futebol do Glorioso. Serei o primeiro a aplaudir, caramba. Agora, não havendo milagre, temos de pensar em saídas. A primeira devia ser, como é óbvio, a do presidente. Mas talvez míster Vitória tenha chegado também ao fim do seu tempo na Luz. Sim, é isso: para evitar a triste trapalhada de um Brexit benfiquist­a, sugiro uma mudança de governo no maior clube do mundo.

Para evitar a triste trapalhada de um Brexit benfiquist­a, sugiro uma mudança de governo no maior clube do mundo

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal