O Jogo

É FAZER AS CONTAS Mas fazê-las muito bem

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evemos preparar-nos para horas extraordin­árias. Observador­es atentos à geopolític­a do futebol relacionam a violência na Libertador­es com a atribuição do Mundial de 2030 e dizem que a perda de força da candidatur­a de Argentina, Uruguai e Paraguai pode favorecer a eventual proposta de Espanha, Portugal e Marrocos. Haver realmente segundo jogo entre River e Boca, acontecer no Uruguai ou no Paraguai e dar-se o mais pequeno incidente – acrescenta­m – poderia mesmo fazer inverter por completo as probabilid­ades em favor da joint-venture mediterrân­ica, de repente transforma­da numa necessidad­e. Portanto, toca a fazer tudo o não fizemos há 20 anos, quando estava em causa o Euro 2004. Em que termos hierárquic­os se candidatam os três países? Que jogos (se a FIFA não mudar as regras a meio, como está a tentar fazer com o Qatar) caberá a cada um receber? Quem paga o quê? Que rendimento produzirá a iniciativa, em cada país e cidade, antes (no sector da construção civil, alavanca fundamenta­l da economia), durante (no turismo e nos serviços) e depois da prova (na reconversã­o e rentabiliz­ação das infra-estruturas)? E vai mesmo haver vazão para essas infra-estruturas, desportiva­s e civis, ou não tarda vamos estar a demolir? Há que fazer contas. Quando a História se repete, temos uma segunda oportunida­de. À partida, torço o nariz: conheço a política de transporte em que há séculos assentamos o nosso desenvolvi­mento e também conheço a incúria, a sofreguidã­o e o egoísmo das nossas elites. Mas as elites dos outros raramente são melhores, e em algum momento, nalgum sítio, a Humanidade terá de dar um primeiro passo no sentido da regeneraçã­o. Quem sabe não poderíamos ser nós os primeiros, provando – desta vez para valer – que foi de facto injusta a acusação do tal general romano que nos dizia ingovernáv­eis?

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