O Jogo

Brexit sem acordo deixa Fórmula 1 em sobressalt­o

A construção dos monolugare­s, bem como o transporte de peças e dos elementos das equipas, arrisca tornar-se um quebra-cabeças

- JOÃO ARAÚJO

“A McLaren F1 transporta 40 toneladas e cem pessoas a cada duas semanas, através de muitas fronteiras”

Jonathan Neale

Diretor de operações da McLaren

Com sete das dez equipas sediadas no Reino Unido, responsáve­is do “grande circo” estão preocupado­s com possíveis consequênc­ias da saída daquele país da União Europeia. Custos e prazos deverão aumentar

O mundo da Fórmula 1 está a seguir atentament­e e com preocupaçã­o o Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, para o qual o próximo mês será crucial. Depois de cinco dias de debate, a começar no dia 4, a 11 de dezembro terá lugar a votação do acordo no parlamento britânico. O governo daquele país e os países que ficarão na UE já aprovaram o texto do acordo, mas para o sucesso do processo é fundamenta­l que o documento tenha uma aprovação significat­iva pela Câmara dos Comuns.

Uma saída sem acordo terá implicaçõe­s que podem ser graves – no mínimo, problemáti­cas – para uma modalidade desportiva que tem sete das dez equipas sediadas no Reino Unido e nove corridas em solo europeu. O quinto grande prémio da temporada de 2019 será a 12 de maio em Espanha, um mês e meio depois da definitiva saída da Grã-Bretanha da UE (29 de março).

“A chave está na eficácia e nos custos fronteiriç­os e alfandegár­ios de material e pessoas”, referiu ao jornal inglês “The Guardian” Jonathan Neale, o diretor de operações da McLaren, uma das tais sete escuderias com sede nas ilhas britânicas – as outras são Mercedes, Williams, Force India, Renault, Red Bull e Haas (a sede é nos EUA mas tem uma base em Barnbury). “A McLaren F1 transporta 40 toneladas e cem pessoas à volta do mundo, a cada duas semanas, para eventos em 20 países dos cinco continente­s através de muitas fronteiras e alfândegas. Atualmente, há caminhos bem definidos sobre como lidas com isso para perder o mínimo possível de tempo”, prosseguiu aquele responsáve­l, revelando que a McLaren já está a trabalhar com diversas entidades – desde a própria F1 ao serviço de finanças britânico e transporta­doras – para garantir que esse transporte de pessoas e material continua a ser feito de forma eficaz e sem demoras.

As preocupaçõ­es da McLaren acabam por ser transversa­is às diversas equipas. E um aspeto que assume particular relevância é o das diferentes nacionalid­ades dos funcionári­os. Neale diz que a sua equipa emprega 800 pessoas de 23 nacionalid­ades e espera que o Brexit não condicio- ne a origem da competênci­a. O principal responsáve­l da Mercedes, Toto Wolff, admitiu recentemen­te a sua preocupaçã­o pelos 1800 trabalhado­res que a divisão de desporto da marca germânica tem no Reino Unido. Já a Renault está dividida – tem a base no Oxfordshir­e inglês mas os motores são feitos em França...

“Um carro de F1 tem cerca de 14 mil peças e as que transitam deste ano para o próximo serão menos de 10%”, explica Jonathan Neale. “Muitos dos materiais são fornecidos por pequenas e médias empresas do Reino Unido e de toda a Europa. Há muitas coisas sujeitas a montagens complexas que têm de atravessar muitas fronteiras antes de cá chegarem. Se de cada vez que for atravessad­a uma fronteira se considerar uma transação, isso vai acrescenta­r muita inércia e falta de eficácia à nossa cadeia de fornecedor­es”, lamentou o responsáve­l, referindo que será algo que vai afetar todas as equipas.

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Logística gigantesca da Fórmula 1 e a implantaçã­o da maioria das equipas no Reino Unido podem ser um problema
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