O Jogo

“Jesus mudou o treino”

No interrogat­ório do juiz Carlos Delca, o ex-líder responsabi­lizou o antigo treinador pela alteração do plano de trabalho do dia 15 de maio: “Achou que tinha sido despedido”

- RUI MIGUEL GOMES

“Rui Patrício e William tinham jantares regulares com a claque. Não eram santos” “A única vez que uma claque entrou na Academia foi Jorge Jesus que a deixou entrar...”

Bruno de Carvalho

Ex-presidente do Sporting

Antigo dirigente fala em proximidad­e dos dois capitães com as claques, diz que o portão da Academia não foi fechado por causa dos jornalista­s que “pediram para entrar” face à presença de invasores

Bruno de Carvalho negou qualquer envolvimen­to no ataque à Academia em Alcochete, no passado dia 15 de maio, no decurso do interrogat­ório efetuado por Carlos Delca, juiz de instrução do Tribunal do Barreiro, depois da detenção no dia 11 de novembro, na sequência da acusação do Ministério Público (MP) de 98 crimes, entre eles terrorismo. Mais do que isso, no áudio do interrogat­ório ontem divulgado no programa Sexta às 9 da RTP 1, ouve-se Bruno de Carvalho a responsabi­lizar o técnico Jorge Jesus pela alteração do treino da manhã do dia do ataque para a tarde por este, na véspera, ter saído da reunião com a SAD por si liderada “convencido de que tinha sido despedido”. “Dissemos-lhe [a Jesus] que íamos fazer uma reunião de manhã com os nossos advogados para decidir o que fazer. Quando ele sai da reunião está convencido de que está despedido. Quis passar o treino para a tarde porque achava que já não o ia dar”, disse, algo que, no dia 14 de maio, quando saiu da dita reunião afirmou: “Se Bruno suspendeu o Jesus, esperem pelo Bruno, porque o presidente não o suspendeu. Jesus continua a ser o treinador.”

E nem os jornalista­s escaparam no meio das justificaç­ões do antigo presidente, afirmando que estes “é que pediram por amor de deus ao segurança” para deixar o portão aberto para entrarem na Academia face à presença dos elementos da Juventude Leonina, isto num interrogat­ório de duas horas. “Moral da história, quando o senhor queria fechar, já não dava. Houve duas medidas de segurança desativada­s no início da época sem minha autorizaçã­o e da Comissão Executiva, as duas portas de vidro em que tínhamos de passar um cartão. A pedido de Jorge Jesus não retiraram o aparelho, mas desconecta­ram-no. Se reagi? Só me apercebi quando isto aconteceu, pois normalment­e era o meu motorista que saía e me abria a porta do carro”, disse.

Bruno de Carvalho acusa igualmente Rui Patrício e William Carvalho de “participar­em em jantares regulares com elementos da Juventude Leonina”. “Queriam sair há muito tempo. Não eram nenhuns santos! Sei que uma vez Jorge Jesus quis jantar com a Juventude Leonina, eu, tirando a festa de Natal ou aniversári­o, nunca fui jantar com eles. Aliás, a única vez que uma claque entrou dentro da Academia foi o Jorge Jesus que a deixou entrar, fui alertado e disse que não autorizava. E disse-lhe: ‘Jorge, você não manda aqui nada’”, atirou, frisando que as reuniões que teve com a claque e a célebre frase “façam o que quiserem” foi retirada do contexto e referia-se a “tarjas”: “O tema da conversa foi 90% o ataque que fiz... Um tal Fernando Barata disse ‘vamos fazer umas tarjas’ e eu tinha de acabar a reunião e disse façam o que quiserem. Tochas ao Rui Patrício? Fiquei espantadís­simo, achei que era parvoíce.”

Inclusive, o antigo dirigente fez troça das queixas de Jorge Jesus no que às agressões diz respeito, desvaloriz­ando as mesmas,assimcomoa­squefoi alvo o então preparador físico Mário Monteiro. “Diz-se que o Jorge Jesus levou uma vergastada, mas eu estive dentro do balneário dos treinadore­s e deve ter sido muito levezinha então. Não vi Jorge Jesus com mazela nenhuma. Falou-me de Mário Monteiro e diz que recebeu uma tocha no peito, mas nem um furinho tinha na camisola. Tirando o Bas Dost, alguém foi ao hospital mostrar alguma coisa? Continuo a achar tudo estranho. Estava o Jorge Jesus e o William Carvalho, com o Fernando Mendes e mais cinco a conversar, os tais que saem pelo BMW, com a GNR lá dentro”, acusou, rematando com uma garantia: “Teria de ser uma pessoa desequilib­rada, teria de estar registado, penso que os meus 46 anos de vida não deixam dúvidas a ninguém de que sou uma pessoa equilibrad­a.”

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