FOI PRECISO ALMA DE LÍDER E MUITA FÉ
Dérbi impróprio para cardíacos decidido no último suspiro por Hernâni, que entrou aos... 88’. Dragões metem a décima e mantêm a concorrência à distância
Boavista apostou no físico e na irritação do adversário, mas foi traído pelos próprios nervos. Conceição mexeu bem do banco e o FC Porto continua imparável. Foi o oitavo golo nos últimos 15 minutos de jogo
Sérgio Conceição meteu Hernâni em campo aos 88’, quando jápoucohaviaparajogar,etirou Brahimi, um daqueles jogadores que a qualquer momento podem decidir um jogo. Pode dizer-se que foi uma questão de fé ou mesmo uma “fezada” do treinador portista, que resultou em cheio porque foi o último a entrar que fez o golo da vitória no suspiro final, quando já todo o banco do Boavista festejava com os adeptos o roubo de dois pontos ao líder. Só que este FC Porto parece ter sete vidas e manteve a crença na vitória até ao fim, sendo premiado com um daqueles golos que podem ser decisivos na contabilidade final do campeonato. Logo se verá. Para já foi suficiente para garantir o décimo triunfo consecutivo aos portistas e deixar a concorrência à distância. Foi o terceiro golo nos descontos nesta edição da Liga, o oitavo nos últimos 15 minutos de jogo. Emotivo porque foi resolvido ao cair do pano, o dérbi foi sobretudo muito intenso, como Conceição previu, a roçar muitas vezes o agressivo. Ganhou quem nunca desistiu, quem mais procurou, e os 22 remates do FC Porto, contra quatro do Boavista, dizem quase tudo sobre isso.
A primeira parte foi mal jogada, com poucos lances na área e muitas interrupções por faltas ou para assistências médicas. E isso foi irritando um FC Porto que adotou pela primeira vez nas provas nacionais o sistema da Liga dos Campeões. Corona foi lateral, Otávio saltou para a titularidade, mas Soares não fez companhia a Marega, como se esperava. Com as duas equipas em 4x3x3, jogou-se muito a meio-campo, com o Boavista a ter os dois primeiros lances de perigo,emduasofertasdoscentrais portistas. A verdade é que até aos 30’ praticamente não se jogou. A partir daí, o FC Porto foi em busca da felicidade, mas com pouca objetividade e muita falta de criatividade, mesmo tendo Corona, Óliver, Otávio e Brahimi ao mesmo tempo em campo. Jorge Simão, que repetiu o onze que vencera o Espinho na Taça, pediu coragem aos seus jogadores, e eles lutaram muito e só quebraram, como já dissemos,mesmonofim,quando o discernimento já não era o mesmo.
O FC Porto regressou do intervalo com outra atitude. Já com Óliver mais perto de Herrera do que de Danilo, aos poucos os portistas encontraram as coordenadas para a baliza de Helton, que foi adiando o golo com boas intervenções. Na segunda parte, o Boavista pura e simplesmente não incomodou Casillas, mas por mérito do FC Porto, que, ainda assim, não conseguia marcar. Sérgio Conceição olhou para as opções que tinha no banco e apostou em acrescentar poder físico, primeiro com a entrada de Soares para o lugar de Óliver – terá feito o pior jogo deste ciclo pósBenfica – e depois ao chamar Adrián López para render Otávio. Saíram os mais “pequenos” e entraram jogadores capazes de aproveitar o desgaste que a defesa axadrezada começava a dar sinais de ter. Afinal, estes jogos entre vizinhos são, por norma, ganhos no músculo... Este também foi assim, apesar de o golo ter sido assinado por um dos quem têm menos “cabedal”; Soares, por exemplo, perdeu dois golos já nos descontos. Foram dois golpes duros que não abateram a fé da equipa, que evitou sempre o chuveirinho para a área contrária. Até que foi premiada com o tal golo em que os três homens que saíram do banco tiveram participação direta. Hernâni foi o herói, mas a fé começou no treinador e contagiou toda a gente.