O Jogo

Sonho de conhecer Messi foi intervalo nos pesadelos

A agência EFE foi à procura do pequeno que encantou o mundo há dois anos e, desta vez, a história não é de encantar

- HUGO SOUSA

Murtaza, o menino afegão que tem agora sete anos e que em 2016 enterneceu o mundo com uma improvisad­a camisola do ídolo argentino, com quem se encontrou no Catar, é agora refugiado em Cabul

Aparece, enternece e esquece: histórias como as de Murtaza costumam cumprir esse percurso na memória, com um prazo de validade que tem a duração de uma partilha nas redes sociais, até que outra históriaap­areça, deixe toda agente enternecid­a e caia no esquecimen­to.

Murtaza tem agora sete anos e há dois comoveu o mundo ao aparecer numa remota região afegã com uma improvisad­a camisola de plástico em homenagem a Messi, o ídolo. A imagem tornou-se viral e chegou aos olhos do argentino, que tratou de arranjar maneira de se cruzar como pequeno nump articular que o Barcelona disputo uno Catar. As imagens desse encontroto­rnaram-setambém num êxito instantâne­o, com Murtaza a levar para casa camisolas autografad­as do craque e uma bola. Sim, e depois? Os livros normalment­e acabavam com “e viveram felizes para sempre”. Mas a realidade nem sempre correspond­e com esse ponto final nas histórias de encantar que circulam em redes sociais.

A agência EFE fez a mesma pergunta: e depois? Melhorain da: foià procurada resposta. Murtaza já não vive numa pequenacid­ade afegãemu dou-se para Cabul. O motivo não é bom. A instabilid­ade desencadea­da por perseguiçõ­es talibãs, segundo relata a agência espanhola, obrigou a família a fugir para a capital, onde se encontra junto de outros refugiados de guerra. Para trás ficou tudo, incluindo as ofertas que Murtaza guardava do encontro com Messi. Não deu tempo para pensar nisso quando o plano de fuga foi traçado.

Fama só trouxe problemas

Antes de a guerra os obrigar a fugir, a família do pequeno Murtaza descobriu o lado negro da fama. Começou tudo por ser bonito, mas as atenções e o interesse do craque do Barcelona transforma­ram a vida num pesadelo. A família começou a receber ameaças telefónica­s, à conta da fama do pequeno, que deixou deiràes cola, contouà EFE Humayoon Ahmadi, de 17 anos, um dos quatro irmãos de Murtaza.

O encontro com Messi, num particular disputado no Catar, complicou ainda mais as coisas. “Vivíamos com medo, porque muitas pessoas pensaram que Messi nos tinha dado muito dinheiro ”, prosseguiu Ahm adi. “Tínhamos medo que o sequestras­sem e durante dois anos viveu praticamen­te dentro casa.”

O cenário foi-se tornando in- sustentáve­l e a família ensaiou uma primeira fuga para o Paquistão, na esperança de encontrar maneira de chegar legalmente aos Estados Unidos. O pedido de asilo acabaria por ser negado e não houve outro remédio senão regressara o pequenopov­oado do Afeganistã­o, de onde fugiram há poucas semanas rumo aCabul devido aos talibãs.

A reportagem da EFEt em ainda espaço para algumas palavras deMurtaza, que confessa sentir saudades do povoado onde podia jogar livremente à bola. “Aqui não posso ir para a rua”, lamenta. Agarra-se à promessa que diz ter ouvido da boca de Messi,quan dose encontrara­m. “Pedi-lhe que me levasse com ele, porque queria ser jogador e onde vivia só se ouvia explosões e disparos [imitou o sons, segundo a EFE]”. O argentino ter-lhe-á dito que o ajudaria quando Murtaza fosse mais crescido. Pelo menos, foi essa a memória que guardou.

E se esta história for tão partilhada como foi a foto que lhe deu fama, talvez chegue outra vez a Messi...

“Vivíamos com medo, acharam que o Messi nos tinha dado muito dinheiro”

Humayoon Ahmadi

Irmão de Murtaza

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Murtaza foi ao Catar, onde conheceu o ídolo Messi e outros craques do Barcelona

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