A comunicação despudorada
M uitas vezes, tão importante como fazer bem, é comunicar bem aquilo que fazemos. No futebol também é assim, pelo que não é de estranhar que os clubes se preocupem com a sua forma de comunicar. As intenções são percetíveis: por um lado, tentam comunicar para dentro, animando as tropas, vendendo o que de bom estão a fazer para ter os adeptos do seu lado, ou combatendo fora do campo com os adversários. Por outro lado, tentam comunicar para fora, tentando fazer ouvir a sua voz e impor as suas ideias junto de entidades terceiras com relevância no mundo da bola.
Tudo isto é muito lindo, mas a verdade é que tudo isto tem andado, em muitos casos, completamente descontrolado. Alguns responsáveis pela comunicação dos clubes, ao longo dos últimos anos e particularmente aqueles que trabalham para os três crónicos candidatos ao título têm ultrapassado todas as marcas. Quando falam para dentro, mais não pretendem do que fazer apelo aos sentimentos mais primários dos seus adeptos: quando falam para fora, tentam de forma despudorada condicionar a ação de árbitros e das instâncias que decidem os destinos do futebol luso.
O caso das declarações de Francisco J. Marques acerca do jogo entre o Vitória e o FC Porto é só mais um. Para tentar disfarçar para dentro as verdadeiras razões do empate e para condicionar a ação de adversários futuros, o responsável portista lembrou-se de um antijogo vitoriano que mais ninguém que analise a partida de forma isenta pode ter visto. Para cúmulo, resolveu dar como exemplo o caso de Alexandre Guedes, o qual teria simulado uma lesão para perder tempo. Na cabeça de FJM, é possível que o avançado do Vitória tenha andado a simular no relvado, fora das quatro linhas, na ambulância e até na unidade hospitalar aonde se deslocou para fazer exames. Ele, que esteve no relvado três minutos a ser assistido, precisamente os mesmos que esteve Marega...
E é assim. Para fazer passar a tal mensagem, vale tudo, até mesmo desafiar a inteligência de quem nos ouve e pôr em causa o profissionalismo dos adversários. Perante boutades destas, o que fazer? Da parte do Vitória, a resposta veio sob a forma de humor e ironia de Carlos Ribeiro e se calhar foi a melhor forma de responder, sem entrar no mesmo campeonato do homólogo. O problema não é, todavia, como responder, mas evitar que situações destas aconteçam. Estava na altura de todos os clubes perceberem que este tipo de situações, no longo prazo, prejudicam toda a gente, porque fazem mal ao futebol.
O FC Porto não ganhou em Guimarães porque o Vitória se bateu bem, como era sua função, e porque os dragões não foram eficazes nas oportunidades que conseguiram criar. O resto é tentar atirar areia para os olhos de quem estiver disponível para levar com ela na cara.
Na cabeça de FJM, é possível que Alexandre Guedes tenha andado a simular no relvado, fora das quatro linhas, na ambulância e até na unidade hospitalar aonde se deslocou para fazer exames