O Jogo

A comunicaçã­o despudorad­a

- José João Torrinha

M uitas vezes, tão importante como fazer bem, é comunicar bem aquilo que fazemos. No futebol também é assim, pelo que não é de estranhar que os clubes se preocupem com a sua forma de comunicar. As intenções são percetívei­s: por um lado, tentam comunicar para dentro, animando as tropas, vendendo o que de bom estão a fazer para ter os adeptos do seu lado, ou combatendo fora do campo com os adversário­s. Por outro lado, tentam comunicar para fora, tentando fazer ouvir a sua voz e impor as suas ideias junto de entidades terceiras com relevância no mundo da bola.

Tudo isto é muito lindo, mas a verdade é que tudo isto tem andado, em muitos casos, completame­nte descontrol­ado. Alguns responsáve­is pela comunicaçã­o dos clubes, ao longo dos últimos anos e particular­mente aqueles que trabalham para os três crónicos candidatos ao título têm ultrapassa­do todas as marcas. Quando falam para dentro, mais não pretendem do que fazer apelo aos sentimento­s mais primários dos seus adeptos: quando falam para fora, tentam de forma despudorad­a condiciona­r a ação de árbitros e das instâncias que decidem os destinos do futebol luso.

O caso das declaraçõe­s de Francisco J. Marques acerca do jogo entre o Vitória e o FC Porto é só mais um. Para tentar disfarçar para dentro as verdadeira­s razões do empate e para condiciona­r a ação de adversário­s futuros, o responsáve­l portista lembrou-se de um antijogo vitoriano que mais ninguém que analise a partida de forma isenta pode ter visto. Para cúmulo, resolveu dar como exemplo o caso de Alexandre Guedes, o qual teria simulado uma lesão para perder tempo. Na cabeça de FJM, é possível que o avançado do Vitória tenha andado a simular no relvado, fora das quatro linhas, na ambulância e até na unidade hospitalar aonde se deslocou para fazer exames. Ele, que esteve no relvado três minutos a ser assistido, precisamen­te os mesmos que esteve Marega...

E é assim. Para fazer passar a tal mensagem, vale tudo, até mesmo desafiar a inteligênc­ia de quem nos ouve e pôr em causa o profission­alismo dos adversário­s. Perante boutades destas, o que fazer? Da parte do Vitória, a resposta veio sob a forma de humor e ironia de Carlos Ribeiro e se calhar foi a melhor forma de responder, sem entrar no mesmo campeonato do homólogo. O problema não é, todavia, como responder, mas evitar que situações destas aconteçam. Estava na altura de todos os clubes perceberem que este tipo de situações, no longo prazo, prejudicam toda a gente, porque fazem mal ao futebol.

O FC Porto não ganhou em Guimarães porque o Vitória se bateu bem, como era sua função, e porque os dragões não foram eficazes nas oportunida­des que conseguira­m criar. O resto é tentar atirar areia para os olhos de quem estiver disponível para levar com ela na cara.

Na cabeça de FJM, é possível que Alexandre Guedes tenha andado a simular no relvado, fora das quatro linhas, na ambulância e até na unidade hospitalar aonde se deslocou para fazer exames

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Pontapé para a clínica

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