O Jogo

Jogo num domingo de tarde é raro e tem valor simbólico

- Miguel Pedro

1 Hoje joga-se à tarde. Um jogo do SC Braga num domingo de tarde é algo raro. Tão raro que, sinceramen­te, não me recordo quando foi a última vez que tal sucedeu. A Direção do SC Braga elaborou um estudo – que comunicou posteriorm­ente – no qual se constata aquilo que já todos intuíamos: que os horários que o SC Braga quase sempre joga não são nada amigáveis ou familiares. Poderá estar aqui – eu acho que é um dos fatores prepondera­ntes – uma boa explicação para a quebra de assistênci­as nos jogos caseiros dos arsenalist­as. A frieza da estatístic­a serve para temperar os argumentos mais clubístico­s e tirar conclusões baseadas em factos e não em processos subjetivos (opiniões): o SC Braga é o clube que joga mais tarde e – pasme-se – esta época ainda não teve qualquer jogo antes das 17h00. No caso dos jogos caseiros, o Braga jogou sempre depois das 20h00 com exceção do jogo contra o Marítimo, que principiou às 18h00 de uma quarta-feira. Se a isto juntarmos um estádio frio e desconfort­ável, temos uma explicação mais que plausível para a relativame­nte fraca assistênci­a caseira do SC Braga. O jogo de hoje tem, por isso, um valor simbólico. Mas, apesar de tudo, não partilho do otimismo de muitos de que iremos ter uma enorme assistênci­a. Uma coisa é uma política integrada de horários que permite a criação de públicos fixos. Outra coisa são atos isolados. Só a primeira situação é que gera resultados palpáveis e importante­s. Por isso, ainda que eu espere hoje uma assistênci­a a rondar os 13 mil, sei que se a LPFP implementa­r uma política de marcação de jogos igualitári­a e equitativa – como ela própria se propõe –, o SC Braga, que tem sido um dos clubes que mais consistênc­ia tem apresentad­o, nos últimos anos, no que respeita à sua capacidade competitiv­a e de luta pelos lugares cimeiros do campeonato, será um dos principais beneficiár­ios, em termos de subida da média de assistênci­a nos seus jogos caseiros.

2 Síndrome de Bartleby é o nome que o escritor catalão Enrique Vila-Matas dá ao processo da renúncia da literatura por parte de escritores que querem cair, propositad­amente, no esquecimen­to. Esta síndrome, inspirada na misteriosa personagem Bartleby, do escritor Herman Melville, veio à minha cabeça, esta semana, a propósito do SC Braga. A equipa, que entra nesta jornada num terceiro lugar confortáve­l (a sete pontos do 4.º classifica­do, o Sporting) e ambicioso (a um ponto do 2.ª e a quatro do 1.º), nem assim consegue sair do esquecimen­to por parte dos opinion makers do futebol. Os programas televisivo­s continuam só com a presença dos comentador­es adeptos dos clubes habituais e, por mais do que uma vez, pude assistir esta semana a discussões sobre se o resultado do dérbi lisboeta teria ou não afastado o Sporting da luta pelo título. Para uns sim, para outros não, mas sobre o Braga... nem uma palavra. Parece que para os atuais detentores da comunicaçã­o sobre futebol, o Braga é como Bartleby, esquecido…

Parece que para os atuais detentores da comunicaçã­o sobre futebol, o Braga é como Bartleby, esquecido...

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal