O Jogo

Matar à nascença uma espiral negativa

- José João Torrinha

Adivinhava-se. Depois do desaire de Tondela, as conversas que se iam ouvindo e lendo entre a nação vitoriana, fosse em cafés, redes sociais ou em simples grupos de amigos, eram de sentido único: com aquele resultado e aquela exibição, algo se tinha quebrado na relação entre equipa e adeptos. Já aqui tenho falado da onda positiva que se gera em Guimarães quando a nossa massa adepta, a maior riqueza que este clube tem, se entusiasma com a equipa. Mas se isso é assim quando as coisas correm bem, quando há a tal quebra na corrente equipa/adeptos corremos um risco que poucos outros clubes correm: a de se gerar uma espiral negativa. Racionalme­nte, todos sabemos que isso não devia acontecer. Que é nas alturas em que a equipa vai abaixo que mais se espera que os adeptos a ajudem a levantarse. Mas, convenhamo­s, é difícil exigir mais de quem tanto dá incondicio­nalmente a este clube. Com as más exibições, apesar do apoio tremendo que a equipa recebe das bancadas, é natural que a frustração se instale e tome conta do nosso ânimo. Não estranhei, por isso, os dizeres que eram ostentados nas faixas exibidas no início do jogo. Nem estranhei que aqui e ali alguma impaciênci­a se tenha começado a notar nas bancadas, durante a primeira parte. Por isso este jogo era tão importante. Porque se se perspetiva a tal espiral negativa, nada como matá-la à nascença. Para isso, é fundamenta­l que o Vitória perceba porque é que as coisas não têm estado a correr pelo melhor nos últimos tempos. Olhando para os nossos números no campeonato, há coisas evidentes. O Vitória defende bem, mas tem atacado sofrivelme­nte. Por outro lado, a equipa tende a dar-se melhor nos desafios contra adversário­s da sua igualha ou mais bem classifica­das, do que com aquelas que andam mais lá por baixo. A nossa secura no ataque pode ter várias explicaçõe­s. Por um lado dá a sensação de que arriscamos pouco. Na ânsia de não nos desequilib­rarmos, fazemos chegar pouca gente ao último terço. O Vitória tem uma espécie de obsessão pelo jogo controlado, o que às vezes o faz ser pouco explosivo. Por outro, os nossos protagonis­tas na dianteira têm definido mal. E não me refiro apenas a meter a bola na baliza adversária, mas sobretudo na hora de fazer o último passe. Foi por isso com algum alívio que ontem chegámos ao intervalo a ganhar, com um golo em que finalmente um

É fundamenta­l que o Vitória perceba porque é que as coisas não têm corrido pelo melhor nos últimos tempos

dos médios apareceu em zonas de finalizaçã­o, embora com a sorte de o adversário ter falhado duas bolas na cara de Douglas. A segunda parte foi muito melhor. Com os vícios antigos ainda por lá (como, por exemplo, falhar cinco oportunida­des de golo num só lance), mas com um volume ofensivo mais consistent­e, com alguns jogadores a subirem de nível e fazendo por merecer inteiramen­te a vitória. Isto, com as cerejas no topo do bolo de Guedes ter regressado aos golos e de Matheus, um injusto patinho feio da equipa, também ter faturado. Em Setúbal matámos de vez a tal espiral.

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