Matar à nascença uma espiral negativa
Adivinhava-se. Depois do desaire de Tondela, as conversas que se iam ouvindo e lendo entre a nação vitoriana, fosse em cafés, redes sociais ou em simples grupos de amigos, eram de sentido único: com aquele resultado e aquela exibição, algo se tinha quebrado na relação entre equipa e adeptos. Já aqui tenho falado da onda positiva que se gera em Guimarães quando a nossa massa adepta, a maior riqueza que este clube tem, se entusiasma com a equipa. Mas se isso é assim quando as coisas correm bem, quando há a tal quebra na corrente equipa/adeptos corremos um risco que poucos outros clubes correm: a de se gerar uma espiral negativa. Racionalmente, todos sabemos que isso não devia acontecer. Que é nas alturas em que a equipa vai abaixo que mais se espera que os adeptos a ajudem a levantarse. Mas, convenhamos, é difícil exigir mais de quem tanto dá incondicionalmente a este clube. Com as más exibições, apesar do apoio tremendo que a equipa recebe das bancadas, é natural que a frustração se instale e tome conta do nosso ânimo. Não estranhei, por isso, os dizeres que eram ostentados nas faixas exibidas no início do jogo. Nem estranhei que aqui e ali alguma impaciência se tenha começado a notar nas bancadas, durante a primeira parte. Por isso este jogo era tão importante. Porque se se perspetiva a tal espiral negativa, nada como matá-la à nascença. Para isso, é fundamental que o Vitória perceba porque é que as coisas não têm estado a correr pelo melhor nos últimos tempos. Olhando para os nossos números no campeonato, há coisas evidentes. O Vitória defende bem, mas tem atacado sofrivelmente. Por outro lado, a equipa tende a dar-se melhor nos desafios contra adversários da sua igualha ou mais bem classificadas, do que com aquelas que andam mais lá por baixo. A nossa secura no ataque pode ter várias explicações. Por um lado dá a sensação de que arriscamos pouco. Na ânsia de não nos desequilibrarmos, fazemos chegar pouca gente ao último terço. O Vitória tem uma espécie de obsessão pelo jogo controlado, o que às vezes o faz ser pouco explosivo. Por outro, os nossos protagonistas na dianteira têm definido mal. E não me refiro apenas a meter a bola na baliza adversária, mas sobretudo na hora de fazer o último passe. Foi por isso com algum alívio que ontem chegámos ao intervalo a ganhar, com um golo em que finalmente um
É fundamental que o Vitória perceba porque é que as coisas não têm corrido pelo melhor nos últimos tempos
dos médios apareceu em zonas de finalização, embora com a sorte de o adversário ter falhado duas bolas na cara de Douglas. A segunda parte foi muito melhor. Com os vícios antigos ainda por lá (como, por exemplo, falhar cinco oportunidades de golo num só lance), mas com um volume ofensivo mais consistente, com alguns jogadores a subirem de nível e fazendo por merecer inteiramente a vitória. Isto, com as cerejas no topo do bolo de Guedes ter regressado aos golos e de Matheus, um injusto patinho feio da equipa, também ter faturado. Em Setúbal matámos de vez a tal espiral.