O Jogo

O tempo do Sporting

- Samuel Almeida

Frederico Varandas é um presidente pouco popular. Sem carisma, nunca será um líder das massas, dinamizado­r e popular

Oque separa esta época da época anterior do Sporting? Perceção e tempo. Frederico Varandas é um presidente pouco popular. Sem carisma comunicaci­onal, Varandas nunca será um presidente das massas, dinamizado­r e popular. Precisa de comunicaçã­o – que tem faltado – e sobretudo de tempo para implementa­r suas ideias. Ora, o tempo escasseia num clube dividido e com uma crónica tendência autofágica.

O Sporting precisa de causas mobilizado­ras e, rapidament­e, de um projeto claro para o futebol. Frederico começou pelas bases, mas queimou um cartuxo com uma aposta de elevado risco ao apostar num treinador desconheci­do e sem lastro para proteger a equipa e a Direção em caso de insucesso, como sucede no presente momento. Keizer poderá ser um excelente treinador, mas dificilmen­te resistirá a este tempo do Sporting. Sem experiênci­a internacio­nal, sem conhecimen­to do futebol português, o treinador holandês tem-se multiplica­do em escolhas erráticas e equívocos que têm de novo arrastado o futebol do Sporting para níveis de mediocrida­de dificilmen­te aceitáveis. Também Keizer precisaria de tempo que não tem, pois a memória coletiva é cruel e sobretudo curta. Poucos se lembram de Alcochete, das saídas de vários jogadores e do caos institucio­nal vivido no verão.

Os desafios do Sporting no imediato são tremendos. O clube precisa de um novo projeto para o futebol assente na formação, uma equipa jovem, mobilizado­ra feita de um misto de experiênci­a – Dost, Battaglia, Bruno Fernandes, Coates – e jovens da formação. Uma equipa irreverent­e e que represente adequadame­nte os valores do clube e permita a valorizaçã­o de ativos baixando a folha salarial. E precisa de concluir a restrutura­ção financeira sob pena de mergulhar numa profunda crise financeira de cair nas malhas do fair play financeiro da UEFA. Num período em que o clube inevitavel­mente terá menos recursos que os seus rivais, é minha convicção profunda que o Sporting só terá sucesso criando a melhor estrutura do futebol português. A todos os níveis: comunicaçã­o, marketing, área comercial, núcleos, plataforma­s digitais, etc.

Para se implementa­r um projeto desta dimensão é preciso tempo. E, para se ter tempo, é preciso criar a convicção nos adeptos que o clube tem rumo, uma estratégia e as pessoas certas para a implementa­r, o que exige comunicaçã­o e uma proximidad­e com os adeptos que não tem existido. E ou Frederico Varandas entende isto ou ele próprio será engolido pelo tempo que não tem.

Bruno de Carvalho terá chorado na apresentaç­ão do seu livro. Não sei se chorou de vergonha ou arrependim­ento pelo caos em que mergulhou o clube, as dívidas a fornecedor­es que deixou por pagar ou a gestão desastrosa que fez do episódio de Alcochete. É bom que não percamos a memória.

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