O tempo do Sporting
Frederico Varandas é um presidente pouco popular. Sem carisma, nunca será um líder das massas, dinamizador e popular
Oque separa esta época da época anterior do Sporting? Perceção e tempo. Frederico Varandas é um presidente pouco popular. Sem carisma comunicacional, Varandas nunca será um presidente das massas, dinamizador e popular. Precisa de comunicação – que tem faltado – e sobretudo de tempo para implementar suas ideias. Ora, o tempo escasseia num clube dividido e com uma crónica tendência autofágica.
O Sporting precisa de causas mobilizadoras e, rapidamente, de um projeto claro para o futebol. Frederico começou pelas bases, mas queimou um cartuxo com uma aposta de elevado risco ao apostar num treinador desconhecido e sem lastro para proteger a equipa e a Direção em caso de insucesso, como sucede no presente momento. Keizer poderá ser um excelente treinador, mas dificilmente resistirá a este tempo do Sporting. Sem experiência internacional, sem conhecimento do futebol português, o treinador holandês tem-se multiplicado em escolhas erráticas e equívocos que têm de novo arrastado o futebol do Sporting para níveis de mediocridade dificilmente aceitáveis. Também Keizer precisaria de tempo que não tem, pois a memória coletiva é cruel e sobretudo curta. Poucos se lembram de Alcochete, das saídas de vários jogadores e do caos institucional vivido no verão.
Os desafios do Sporting no imediato são tremendos. O clube precisa de um novo projeto para o futebol assente na formação, uma equipa jovem, mobilizadora feita de um misto de experiência – Dost, Battaglia, Bruno Fernandes, Coates – e jovens da formação. Uma equipa irreverente e que represente adequadamente os valores do clube e permita a valorização de ativos baixando a folha salarial. E precisa de concluir a restruturação financeira sob pena de mergulhar numa profunda crise financeira de cair nas malhas do fair play financeiro da UEFA. Num período em que o clube inevitavelmente terá menos recursos que os seus rivais, é minha convicção profunda que o Sporting só terá sucesso criando a melhor estrutura do futebol português. A todos os níveis: comunicação, marketing, área comercial, núcleos, plataformas digitais, etc.
Para se implementar um projeto desta dimensão é preciso tempo. E, para se ter tempo, é preciso criar a convicção nos adeptos que o clube tem rumo, uma estratégia e as pessoas certas para a implementar, o que exige comunicação e uma proximidade com os adeptos que não tem existido. E ou Frederico Varandas entende isto ou ele próprio será engolido pelo tempo que não tem.
Bruno de Carvalho terá chorado na apresentação do seu livro. Não sei se chorou de vergonha ou arrependimento pelo caos em que mergulhou o clube, as dívidas a fornecedores que deixou por pagar ou a gestão desastrosa que fez do episódio de Alcochete. É bom que não percamos a memória.