CARLOS SILVA “Naturalizações são perigosas”
Leva três anos como diretor-geral do atletismo do Sporting e vibrou com todos os títulos conquistados, mas os campeonatos europeus, ganhos com um toque pessoal, tiveram sabor especial
Diretor-técnico do Sporting desde 2016, antes treinador, Carlos Silva é alguém com notoriedade no mundo do atletismo, mas pouco conhecido fora dele. Este professor deEducaçãoFísica,de48anos, tem sido um dos principais responsáveis pelos êxitos recentes dos leões nesta modalidade, principalmente pelos títulos europeus de crosse e pista de femininos. Contudo, nosmasculinos,oscampeonatos nacionais de pista têm fugido para o Benfica. A O JOGO, o dirigente leonino confessa que há fatores a melhorar, mas existem situações que não são possíveis de controlar, como as “naturalizações expresso”.
Que balanço faz destes anos à frente do atletismo do Sporting?
—Acima de tudo, é um balançopositivo.Éumagrandehonra representar o Sporting e ajudar a dar nova vida à modalidade. Conseguimos construir as bases de um projeto e as equipas cresceram em termos de qualidade e também em número.
Qual a maior alegria neste período?
—Foram muitos bons momentos. Mas os títulos europeus e participações europeias tiveram um sabor especial.
O clube é campeão europeu de crosse e de pista em femininos. Pode dizer-se que tem a melhor equipa do mundo?
—Dizer que é do mundo será lisonjeiro, mas temos uma grande equipa, com dimensão europeia e também mundial.
No masculino, falhou o título europeu de crosse e não tem conseguido bater o Benfica na pista. O que tem faltado?
—Em termos de crosse, conseguimos formar uma equipa ganhadora e que está na elite europeia. Já na pista, é necessário alguma dose de sor- Falta apenas um ano para os Jogos Olímpicos de Tóquio, competição no qual Carlos Silva espera bons resultados dos atletas do Sporting. Nelson Évora é a principal esperança leonina, mas o diretor-técnico também acredita em outros atletas, como Patrícia Mamona. “São os dois mais bem cotados para conseguir medalhas no Jogos Olímpicos. Mas por que não depositar também esperanças nas atletas da maratona, ou nos estrangeiros da nossa equipa? Por vezes, e para muitos, a passagem a uma meia-final e à final já é uma vitória”, lembra o dirigente leonino.
“Tóquio? Patrícia e Nélson são os mais bem cotados”
Foi Carlos Lopes quem desafiou Carlos Silva, em 2016, a ocupar o cargo de diretortécnico do atletismo do Sporting “Uma gripe é normal para uma pessoa, mas para um atleta, perto de uma competição, pode ser fatal” “Penso que os estágios antes das competições têm resultado. É um momento para a equipa e um dos segredos do sucesso” “Esta moda do running é perigosa. Se não houver equilíbrio, pode ser prejudicial para a saúde das pessoas”
te e outra de acerto. Isso temnos colocado fora das vitórias. Há também outros aspetos que não dominamos e não conseguimos controlar, como quando o rival apresentou dois naturalizados expresso, o que parece ser uma nova moda em Portugal.
Como encara essa questão das naturalizações de atletas? O Sporting também os tem...
—É verdade que também os temos, mas as naturalizações são perigosas. É quase um vale-tudo e não é igual para todos. O Sporting, para conseguir um agendamento no SEF, espera seis ou sete meses e há atletas que conseguem a naturalização mas ainda não têm autorização da IAAF para competir. Por outro lado, há atletas que viram a sua situação regularizada e já deram títulos a outros clubes. Estamos a entrar num campo perigoso, que pode estar a hipotecar o futuro dos nossos jovens.
A mudança de regras da IAAF, com três anos de espera para se utilizar um naturalizado, resolverá este problema?
—Ajudou a moralizar esta questão, mas as entidades nacionais têm de ajudar nesse processo. Parece que estamos à espera de comprar uma medalha ou um título. Tem havido naturalizações de aviários, não há expressão melhor. Qualquer dia não sabemos se estamos num campeonato da Europa ou da Ásia.