“AQUI JÁ NÃO ESTAVA MOTIVADO”
ANDEBOL Pedro Spínola está feliz em Berna, gosta do campeonato suíço e critica o português. Chegou a pensar deixar de jogar...
Pedro Spínola, de 35 anos, está a cumprir a segunda temporada no BSVBern, na Suíça. Depois de ter estranhado a possibilidade, informou-se, aceitou e está feliz da vida. Em Portugal... já não dava mais
Lesionado, Pe dr oSpín ola está a recuperar em Portugal e fez uma visita à redação de O JOGO para nos contar a sua aventura internacional.
Como é o andebol na Suíça?
—O campeonato é competitivo e os jogos entre os seis primeiros são bastante equilibrados. Temos um pavilhão novo, com médias de mil espectadores por jogo, o que é bom. Também é normal os adeptos irem ver os jogos fora, o que em Por- tugal, tirando os jogos entre grandes, não acontece.
Há muitos estrangeiros?
—Na minha equipa somos dois e há um terceiro, mas que está há dez anos na Suíça. Há outras equipas com jogadores estrangeiros, especialmente o Schaffhausen.
Como se deu a sua ida para a Suíça?
—Cheguei a uma altura da minha carreira em que decidi que ou ia para fora ou deixava de jogar. Queria muito continuar, trabalho para ganhar coisas, em Portugal consegui ganhar tudo, mas cheguei a uma altura em que aqui já não me sentia motivado. Falei com o meu empresário e havia várias possibilidades: França, Espanha e também Suíça. O primeiro impacto foi estranho. Para a Suíça ?! Mas depois achei que seria o melhor para a minha família e para mim, e não estou nada arrependido.
Monetariamente compensa mais jogar na Suíça ou em Portugal?
—Na Suíça. Mas não é só monetariamente. Eu gosto mesmo de lá estar, da maneira como sou tratado, do campeonato, são estímulos diferentes. Mas sim, monetariamente rende muito mais na Suíça.
O andebol tem mais importância na Suíça ou em Portugal?
—Na Suíça. O investimento que estão a fazer é muito superior ao que se faz cá. Em Portugal há três equipas muito fortes. Já na Suíça, que tem mais dinheiro do que Portugal, é mais fácil apostar. Uma equipa suíça que lute pelos seis primei-
ros faz maior investimento do que qualquer equipa em Portugal. Por falar em investimento, como olha para a situação do ABC, o último clube em que jogou em Portugal? —Tirando as equipas que têm futebol – e a culpa não é de Benfica, FC Porto e Sporting, porque se têm dinheiro para pagar o que têm a pagar, fazem o que têm a fazer –, as outras não têm andamento. Na altura em que fomos campeões o ABC tentou acompanhar, mas foi de mais.
Foi um risco? —Foi. O ABC não tinha meios parajogaraLigadosCampeões e foi a partir daí que as coisas começaramadescambar.Conseguiu-se fazer uma equipa campeã, mas o problema veio a seguir. Lembro-me que, na altura, pensou-se se participávamos ou não... Agora só estão lá o Hugo Rocha, o Humberto e o Dario. Nesse ano tivemos muitos problemas, o que fez comquealgunsjogadoressaíssem a meio da época, como foi o caso do Nuno Grilo. Eu tinha tudo acertado para sair em janeiro para França, o que não se concretizou, mas no ano seguinte saí eu, o Seabra, o André Gomes, o Branquinho, o Carlos Resende...
A equipa desfez-se... Desfez porque acarretava outras coisas e o ABC não conseguiu acompanhar. Ninguém sai de onde se sente bem, mas as coisas ficaram insuportáveis. Cada vez mais é o que se passa em Portugal. O campeonato perdeu interesse. Ainda há dias, vi o FC Porto-ABC e fiquei triste, porque estava resolvido ao intervalo, com uma equipa a ganhar por dez...
Pedro Spínola jogou no Alto do Moinho, Belenenses, FC Porto, Sporting, ABC e, agora, está nos suíços do BSV Bern “O ABC não tinha meios para jogar a Liga dos Campeões e foi aí que as coisas começaram a descambar” “Se perguntar a todos que treinaram com Obradovic, ninguém diz mal dele. Era muito duro quando era preciso ser duro e nós éramos adultos, não éramos crianças” “Este é o campeonato mais equilibrado dos últimos anos”