O Jogo

Emails equiparado­s a ato de espionagem

Miguel Moreira disse que a McClaren foi condenada por ter acesso a dados confidenci­ais da Ferrari, tal como o FC Porto teve do Benfica

- BRUNO FILIPE MONTEIRO

Testemunha­s dos dragões alegaram que a SAD não teve conhecimen­to da correspond­ência antes de ser divulgada por Francisco J. Marques e que não tiraram benefício de alegados segredos do rival

A terceira sessão do julgamento em que o Benfica exige uma indemnizaç­ão de 17,7 milhões de euros ao FC Porto decorreu ontem, durante todo o dia, no Tribunal do Juízo Central Cível do Porto, e a parte da manhã ficou marcada pelo testemunho do diretor financeiro dos encarnados. Miguel Moreira foi questionad­o pelo juiz e pelos advogados de ambas as partes durante mais de uma hora e tentou demonstrar que o valor pedido pelo clube da Luz até “peca por escasso”. “A base dos 17,7 milhões foram 5% da avaliação feita pela KPMG. Para mim, o Benfica está avaliado em 800 milhões de euros, mais cem, menos cem. Os 5% são o valor mínimo do dano. Para nós é quase um valor simbólico”, sustentou Miguel Moreira, equiparand­o os danos reputacion­ais e de negócios sofridos pela marca Benfica com outros casos famosos, um dos quais sobre espionagem na Fórmula 1. “A Cambridge Analytica é um caso. Há ainda o exemplo de 2007 da McLaren, que teve acesso a informação confidenci­al da Ferrari e que levou uma multa e foi excluída do campeonato de construtor­es”, elencou.

No entender de Miguel Moreira, há uma série de impactos provocados pela divulgação dos emails que “vão perdurar no tempo”. “É um dano de amplitude, dimensão e longevidad­e enorme ”, vincou o diretor financeiro do Benfica, que, quando confrontad­o pelo advogado do FC Porto com o facto, não escondeu que as buscas realizadas pela PJ ao Estádio da Luz também podem ter tido consequênc­ias reputacion­ais. “Foram lá duas ou três vezes, mas não foram ao meu gabinete. Se estudámos o impacto das ações na bolsa no dia seguinte? Não”, revelou.

Da parte da tarde começaram a ser ouvidas as testemunha­s arroladas pelo FC Porto, que procurou demonstrar em tribunal que a divulgação dos emails ocorreu por interesse público. Já a equipa de advogados do Benfica tentou “colá-los” à SAD azul e branca, ao presidente Pinto da Costa e aos administra­dores Adelino Caldeira e Fernando Gomes. No entanto, o assessor da sociedade portista revelou que o tema “nunca foi abordado nas reuniões do Conselho de Administra­ção” em que esteve presente. De resto, Ricardo Martins afiançou que o clube nunca beneficiou do facto de ter tido acesso a informação sensível dos encarnados. “Não fechámos nenhum negócio que tenha sido retirado ou desviado do Benfica”, indicou, com alguma dificuldad­e para convencer o juiz de que os dragões não deram uma vista de olhos no conteúdo desses emails, tendo mesmo o magistrado deixado bem claro que não apreciou as explicaçõe­s que ouvira.

O dia terminou com o testemunho de Júlio Magalhães, diretor-geral do Porto Canal, que assegurou desconhece­r o conteúdo dos emails até serem divulgados por Francisco J. Marques, lembrou que a única reserva que colocou posteriorm­ente foi que a vida privada dos envolvidos não fosse divulgada e revelou ter oferecido o direito do contraditó­rio a dois dos visados. “Enviei um email a Pedro Guerra e Adão Mendes para fazerem o contraditó­rio, mas até hoje nunca o acionaram. Mas também têm um espaço mediático superior ao Porto Canal para o fazer”, rematou.

A audição de testemunha­s continua e deverá terminar durante o dia de hoje. As alegações finais ficaram marcadas para o dia 10 de abril.

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Miguel Moreira depôs na manhã de ontem

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