Emails equiparados a ato de espionagem
Miguel Moreira disse que a McClaren foi condenada por ter acesso a dados confidenciais da Ferrari, tal como o FC Porto teve do Benfica
Testemunhas dos dragões alegaram que a SAD não teve conhecimento da correspondência antes de ser divulgada por Francisco J. Marques e que não tiraram benefício de alegados segredos do rival
A terceira sessão do julgamento em que o Benfica exige uma indemnização de 17,7 milhões de euros ao FC Porto decorreu ontem, durante todo o dia, no Tribunal do Juízo Central Cível do Porto, e a parte da manhã ficou marcada pelo testemunho do diretor financeiro dos encarnados. Miguel Moreira foi questionado pelo juiz e pelos advogados de ambas as partes durante mais de uma hora e tentou demonstrar que o valor pedido pelo clube da Luz até “peca por escasso”. “A base dos 17,7 milhões foram 5% da avaliação feita pela KPMG. Para mim, o Benfica está avaliado em 800 milhões de euros, mais cem, menos cem. Os 5% são o valor mínimo do dano. Para nós é quase um valor simbólico”, sustentou Miguel Moreira, equiparando os danos reputacionais e de negócios sofridos pela marca Benfica com outros casos famosos, um dos quais sobre espionagem na Fórmula 1. “A Cambridge Analytica é um caso. Há ainda o exemplo de 2007 da McLaren, que teve acesso a informação confidencial da Ferrari e que levou uma multa e foi excluída do campeonato de construtores”, elencou.
No entender de Miguel Moreira, há uma série de impactos provocados pela divulgação dos emails que “vão perdurar no tempo”. “É um dano de amplitude, dimensão e longevidade enorme ”, vincou o diretor financeiro do Benfica, que, quando confrontado pelo advogado do FC Porto com o facto, não escondeu que as buscas realizadas pela PJ ao Estádio da Luz também podem ter tido consequências reputacionais. “Foram lá duas ou três vezes, mas não foram ao meu gabinete. Se estudámos o impacto das ações na bolsa no dia seguinte? Não”, revelou.
Da parte da tarde começaram a ser ouvidas as testemunhas arroladas pelo FC Porto, que procurou demonstrar em tribunal que a divulgação dos emails ocorreu por interesse público. Já a equipa de advogados do Benfica tentou “colá-los” à SAD azul e branca, ao presidente Pinto da Costa e aos administradores Adelino Caldeira e Fernando Gomes. No entanto, o assessor da sociedade portista revelou que o tema “nunca foi abordado nas reuniões do Conselho de Administração” em que esteve presente. De resto, Ricardo Martins afiançou que o clube nunca beneficiou do facto de ter tido acesso a informação sensível dos encarnados. “Não fechámos nenhum negócio que tenha sido retirado ou desviado do Benfica”, indicou, com alguma dificuldade para convencer o juiz de que os dragões não deram uma vista de olhos no conteúdo desses emails, tendo mesmo o magistrado deixado bem claro que não apreciou as explicações que ouvira.
O dia terminou com o testemunho de Júlio Magalhães, diretor-geral do Porto Canal, que assegurou desconhecer o conteúdo dos emails até serem divulgados por Francisco J. Marques, lembrou que a única reserva que colocou posteriormente foi que a vida privada dos envolvidos não fosse divulgada e revelou ter oferecido o direito do contraditório a dois dos visados. “Enviei um email a Pedro Guerra e Adão Mendes para fazerem o contraditório, mas até hoje nunca o acionaram. Mas também têm um espaço mediático superior ao Porto Canal para o fazer”, rematou.
A audição de testemunhas continua e deverá terminar durante o dia de hoje. As alegações finais ficaram marcadas para o dia 10 de abril.