Poucos falam dela mas já todos pensam na festa
Regresso à I Liga pode ser confirmado amanhã e O JOGO foi sentir o pulso à cidade. A subida está iminente, mas há quem prefira não deitar foguetes antes da festa
“Não podemos ‘encharcar’ muito que temos a Páscoa a seguir” Júlio Moreira Adepto do Paços de Ferreira
“Festa? Houve um ano em que estávamos quase na Liga Europa e não nos apurámos” Sr. António Adepto do Paços de Ferreira
Críticas às arbitragens ou histórias do passado são os caldos de galinha de alguns adeptos. Celebrações de outros tempos também foram recordadas, como o dia em que Vítor Oliveira andou num carro de bois
São 14 os clubes da II Liga (as equipas B não fazem parte desta equação) que a 11 e 12 de agosto arrancaram no segundo escalão com um sonho comum: chegar à elite do futebol nacional. A primeira de duas vagas pode ficar definida amanhã de manhã, pois ao Paços de Ferreira basta uma vitória para regressar ao convíviocom os grandes. O JOGO fez-se à estrada e andou pelas ruas da cidade para sentir o pulsar de uma festa iminente – já que os pacenses têm 12 pontos de vantagem sobre a Académica – mas sobre a qual poucos gostam de falar.
Um placar eletrónico instalado às portas do Parque da Cidade já vai fazendo publicidade ao encontro do ano. Ali perto, um grupo de adeptos, de faixa etária mais avançada, reúne-se num café e as conversas andamem torno do desporto-rei. Júlio Moreira, 76 anos, sócio desde os anos 60 e atual número 57, lembra-se bem das três vezes em que o Paços venceu a II Liga e subiu ao primeiro escalão. Ainda assim, o sr. Júlio gosta pouco de falar em cenários antecipados, porque a festa “já devia ter ocorrido”. “Fomos roubados com o FC Porto Benoutr os jogos. O que vai acontecer no sábado já podia ter acontecido há quinze dias. Dá azar falar antes”, afirma.No coração do sr. Júlio há amarelo e verde, as cores que vestem o equipamento dos castores, misturadas como vermelho do Benfica.Contudo, o Paços está “acima de tudo”. “Se o Benfica vier cá e levar uma goleada de 6-0, fico todo contente”, frisa. A festa, a tal da qual o sr. Júlio não quer falar muito, tem é de ser moderada. “Sábado poderá ser só metade da festa, pois queremos ser campeões. E não podemos ‘encharcar’ muito, que temos a Páscoa logo a seguir”, recorda.
Puxando novamente o filme atrás, Júlio Moreira não esquece a subida de 1990/91, a primeira que guiou o Paços à I Liga, e que colocou um então jovem Vítor Oliveira, de 37 anos, a festejar num... carro de bois puxado por um burro. “Lembro-me muito bem, mas agora não dá para repetir, pois já não existem por aqui nem carros nem burros para os puxar...”, atira o sr. Júlio.
Atento à conversa está o sr. António, que prefere não falar em frente à câmara de OJOGO, mas que depois nos conta que era diretor desportivo nessa histórica temporada. “Não só o Vítor Oliveira andou num carro de bois como eu também andei em cima de mulas pela cidade”, recorda. A superstição também aqui está presente e talvez seja por isso que António prefere não posar para as fotos. “Festa? Qual festa? Houveum anoem que o Paços fez uma grande primeira volta, estávamos todos a festejar a Liga Europa e acabámos por não nos qualificar”, explica. A esposa, Maria Alzira, de 64 anos, não vai ao estádio amanhã, mas já tem a roupa pronta para celebrar. ”Tenho os calções e a camisola prontos para vestir”, atira, ela que, à semelhança de Júlio Moreira, também reparte a paixão pelo Paços com o amor ao Benfica.
Na zona circundante do Estádio Capital do Móvel, há uma pastelaria de uma cara bem conhecida de Paços de Ferreira que, no entanto, nunca chegou a jogar como sénior no clube local. Agostinho, antigo médio-esquerdo de Málaga (Espanha) ou do RioAve, foi formado nos pacenses e é-nos apresentado como uma velha glória francesa. “Este é o meu Ginola”, diz Manuel Dias. “Ninguém me tira a confiança de que o Paços vai subir. Prefiro a festa que iremos fazer se formos campeões”, reitera Agostinho. Na rua, há um autocarro que passa e que é conduzido por Adalberto, antigo capitão pacense presente nas s ubidas de 1999/2000 e 2004/05 e que agora é motorista de pesados de passageiros. Figuras de outros tempos de um Paços de Ferreira que se prepara para voltar a ser de primeira.