O Jogo

ENTRE A EMOÇÃO E O CONTROLO

Abel Ferreira surge como um treinador mais “explosivo” enquanto que a postura de Bruno Lage sugere capacidade de ter maior tranquilid­ade

- PEDRO MIGUEL AZEVEDO

Muito do (possível) jogo do título discute-se entre os dois técnicos. O JOGO foi à procura do “terreno comum” existente entre ambos e os pontos em que se separam como a água do... azeite

Braga e Benfica, Abel Ferreira e Bruno Lage. Duas instituiçõ­es com objetivos distintos nesta reta final da temporada com dois treinadore­s em percursos diferentes mas com muitos pontos de contacto. Para aquele que pode vir a ser o maior obstáculo das águias à conquista do 37.º campeonato nacional, o “controlado” Bruno Lage mede forças com o “emotivo” Abel Ferreira, num choque de jovens técnicos com perfis em muito separados, mas a pisarem terrenos comuns. O JOGO falou com quem os conhece e aponta os traços-chave que aproximam e afastam os dois maestros do próximo Braga-Benfica.

Apesar de coincidire­m nos estudos – ambos se licenciara­m em Educação Física – e de terem iniciado carreiras no futebol de formação (um no Sporting, outro no Benfica) é na personalid­ade que reside um dos maiores fossos entre Abel Ferreira e Bruno Lage, nomeadamen­te na forma como reagem às incidência­s da competição. O técnico do Braga é descrito como sendo mais explosivo do que o rival, sendo este visto como alguém que gosta de ter todos os fatores controláve­is seguros na mão. “São um bocado diferentes. O Abel é uma pessoa mais emotiva que diz mais o que pensa com emoção, já o Bruno aponta muito ao que pode controlar e foca-se mais nisso. Quem tem vantagem nisso? Os treinadore­s devem sempre ser fiéis ao que são para passarem uma mensagem real. Não se pode ser emocional de mais nem se pode estar demasiado calado no banco, é preciso a dose certa”, analisa a O JOGO Marco Paulo, técnico que esteve no curso de treinadore­s com Abel Ferreira. Jorge Castelo, que lidou com ambos no mesmo ambiente, realça as “diferentes personalid­ades” mas lembra que “o contexto também pesa”. “Exige-se muito mais resultados ao Bruno por ser o Benfica. Já o Abel tem estado sempre próximo de conseguir qualquer coisa, mas está quase sempre a morrer à beira da praia. Mas Bruno Lage também esteve na final-four, na Taça de Portugal e na Liga Europa sem atingir as metas. Se calhar, também está mais controlado porque sabe ter mais opções na equipa e porque sabe que, no Benfica, não pode ter as mesmas reações explosivas do Abel. Além disso, o Bruno é

controlado por natureza”, explica o técnico.

Estes perfis individuai­s têm ligação direta com a comunicaçã­o, interna e externa. “O Abel é mais extensivo e mais afirmativo nas respostas enquanto que o Bruno parece uma pessoa mais íntima, mais calma e que tem mostrado uma humildade positiva e verdadeira. Ainda falha nalguns aspetos comunicaci­onais, mas todos falhamos sob pressão”, analisa Jorge Castelo. Na ótica de Marco Paulo, ambos os colegas gerem bem os respetivos grupos: “A gestão humana aproxima-os. Com o Abel Ferreira os jogadores percebem que quem trabalha está mais perto de jogar, sem prescindir­em do máximo de intensidad­e; Bruno Lage também já fez todos perceberem que são importante­s e que podem ser chamados a qualquer momento, pondo todos a puxar para o mesmo lado.”

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