ENTRE A EMOÇÃO E O CONTROLO
Abel Ferreira surge como um treinador mais “explosivo” enquanto que a postura de Bruno Lage sugere capacidade de ter maior tranquilidade
Muito do (possível) jogo do título discute-se entre os dois técnicos. O JOGO foi à procura do “terreno comum” existente entre ambos e os pontos em que se separam como a água do... azeite
Braga e Benfica, Abel Ferreira e Bruno Lage. Duas instituições com objetivos distintos nesta reta final da temporada com dois treinadores em percursos diferentes mas com muitos pontos de contacto. Para aquele que pode vir a ser o maior obstáculo das águias à conquista do 37.º campeonato nacional, o “controlado” Bruno Lage mede forças com o “emotivo” Abel Ferreira, num choque de jovens técnicos com perfis em muito separados, mas a pisarem terrenos comuns. O JOGO falou com quem os conhece e aponta os traços-chave que aproximam e afastam os dois maestros do próximo Braga-Benfica.
Apesar de coincidirem nos estudos – ambos se licenciaram em Educação Física – e de terem iniciado carreiras no futebol de formação (um no Sporting, outro no Benfica) é na personalidade que reside um dos maiores fossos entre Abel Ferreira e Bruno Lage, nomeadamente na forma como reagem às incidências da competição. O técnico do Braga é descrito como sendo mais explosivo do que o rival, sendo este visto como alguém que gosta de ter todos os fatores controláveis seguros na mão. “São um bocado diferentes. O Abel é uma pessoa mais emotiva que diz mais o que pensa com emoção, já o Bruno aponta muito ao que pode controlar e foca-se mais nisso. Quem tem vantagem nisso? Os treinadores devem sempre ser fiéis ao que são para passarem uma mensagem real. Não se pode ser emocional de mais nem se pode estar demasiado calado no banco, é preciso a dose certa”, analisa a O JOGO Marco Paulo, técnico que esteve no curso de treinadores com Abel Ferreira. Jorge Castelo, que lidou com ambos no mesmo ambiente, realça as “diferentes personalidades” mas lembra que “o contexto também pesa”. “Exige-se muito mais resultados ao Bruno por ser o Benfica. Já o Abel tem estado sempre próximo de conseguir qualquer coisa, mas está quase sempre a morrer à beira da praia. Mas Bruno Lage também esteve na final-four, na Taça de Portugal e na Liga Europa sem atingir as metas. Se calhar, também está mais controlado porque sabe ter mais opções na equipa e porque sabe que, no Benfica, não pode ter as mesmas reações explosivas do Abel. Além disso, o Bruno é
controlado por natureza”, explica o técnico.
Estes perfis individuais têm ligação direta com a comunicação, interna e externa. “O Abel é mais extensivo e mais afirmativo nas respostas enquanto que o Bruno parece uma pessoa mais íntima, mais calma e que tem mostrado uma humildade positiva e verdadeira. Ainda falha nalguns aspetos comunicacionais, mas todos falhamos sob pressão”, analisa Jorge Castelo. Na ótica de Marco Paulo, ambos os colegas gerem bem os respetivos grupos: “A gestão humana aproxima-os. Com o Abel Ferreira os jogadores percebem que quem trabalha está mais perto de jogar, sem prescindirem do máximo de intensidade; Bruno Lage também já fez todos perceberem que são importantes e que podem ser chamados a qualquer momento, pondo todos a puxar para o mesmo lado.”