Ligas e clubes em guerra aberta
Reformulação das competições europeias pós-2024 colocou ECA e EPFL a trocar acusações
A associação de clubes admitiu estar a discutir com a UEFA um novo modelo de competições e aconselhou os seus membros a ignorarem a reunião promovida pela associação de ligas europeias em Madrid
A Associação de Clubes Europeus (ECA) pediu aos emblemas que a integram que ignorem os convites, que diz terem sido feitos a título particular, da Associação de Ligas Profissionais Europeias (EPFL) para estarem num encontro em Madrid, dias 6 e 7 de maio, com o objetivo de discutirem as alterações nas competições europeias após 2024. A ECA entende que os clubes devem apenas participar na reunião que agendou para Malta, a 6 e 7 de junho, sugerindo que o encontro de Madrid é tutelado pela liga espanhola, excluindo a UEFA e a ECA.
A EPFL não gostou do teor do documento que a ECA enviou aos clubes e, numa resposta a que O JOGO teve acesso, acusa-a de querer cozinhar com a UEFA as modificações, sem as discutir com outros interessados. “Ao longo dos últimos dez anos, todas as decisões sobre desenvolvimento do futebol europeu foram um negócio privado entre ECA e UEFA, sem incluir os outros parceiros”, lê-se na resposta assinada por Lars-Christer Olsson, presidente da EPFL, que garante ter convidado a UEFA para o encontro e explica não ter endereçado um convite formal à ECA porque todos os clubes que a integram, e por consequência os seus membros diretivos, foram chamados ao encontro.
O plano pós-2024
A guerra entre as duas partes tem um contexto fácil de explicar. Em cima da mesa, com pressão dos grandes clubes, está um projeto de competições europeias, a entrar em vigor depois de 2024, que desvaloriza as ligas nacionais, em favor de uma espécie de campeonato pan-europeu.
Aliás, no documento que enviouaos seus membros, e a que O JOGO também teve acesso, Andrea Agnelli, presidente da ECA, reconhecia estarem em curso conversas com a UEFA nesse sentido: mais jogos europeus, integrados num sistema de competições europeias baseadas no“mérito desportivo e não em privilégios históricos ”, com“subidas e descidas”. Tu dois toem“articulação com os campeonatos nacionais”, sendo que este é precisamente um dos pontos de que desconfia a EPFL.
O projeto de se criar uma Champions de elite, com os maiores clubes da Europa numa espécie de supercampeonato, tem sido um fantasma recorrente a ensombrar o sossego das ligas europeias e da associação que as representa, acusada agora por Agnelli, no mesmo documento, de “querer manter o status quo” vigente, ou seja, manter tudo na mesma.
A guerra entre as duas partes já era percetível, mas passou agora a ser aberta, com documentos oficiais.
“Recomendamos que não estejam no encontro de Madrid”
Andrea Agnelli
Presidente da ECA “Nos últimos dez anos, decisões sobre futebol europeu foram negócio privado entre ECA e UEFA”
Lars-Christer Olsson
Presidente da EPFL