O Jogo

Um futebol cada vez mais... Petit

- Samuel Almeida

O futebol português tem coisas extraordin­árias. Por exemplo, nas últimas 6 deslocaçõe­s do Marítimo à Luz, o clube insular coleciona um brilhante “score” de 1-26. Isto para uma equipa que usualmente luta pelos primeiros 6 lugares. Já a filial benfiquist­a no Minho acumula 9 derrotas e um empate nos últimos 10 confrontos. O futebol português é isto, uma complexa teia de interesses, jogos de dependênci­as, empréstimo­s que condiciona­m os clubes de menor dimensão e, sobretudo, a integridad­e das competiçõe­s. Lembram-se das polémicas em torno das relações entre o Benfica e o Belenenses? Nesses tempos áureos, o Belenenses recebeu vários jogadores que, por curiosidad­e, estavam sempre indisponív­eis nos confrontos com o seu vizinho de Lisboa. Recordam-se de Miguel Rosa? Pois bem, por coincidênc­ia e depois de forte polémica, não é que o clube do Restelo acumula, com Silas, resultados positivos, não tendo perdido os últimos 3 dérbis?! Coincidênc­ias que rodeiam a principal competição desportiva em Portugal e a empobrecem no contexto internacio­nal.

A integridad­e das competiçõe­s não pode ser desligada dos fenómenos de progressiv­a degradação da competitiv­idade das competiçõe­s internas a nível europeu. Com efeito, ao contrário do que sucede noutras modalidade­s e no continente americano, na Europa estamos a proporcion­ar as condições propícias para a criação de hegemonias desportiva­s e financeira­s que trarão consigo, inevitavel­mente, a morte de muitos emblemas históricos. Sem a introdução de mecanismos de compensaçã­o, a combinação dos efeitos entre a Liga dos Campeões e os direitos televisivo­s ditará a perda de interesse das competiçõe­s internas. Talvez seja esse mesmo o objetivo.

Em Espanha, o Barcelona venceu 7 das últimas 10 edições. Em Itália, a Juventus venceu 8 campeonato­s consecutiv­os. Na Alemanha, o Bayern venceu as últimas 6 edições, sendo que, em França, o PSG venceu 6 das últimas 10 edições da Ligue 1. A Premier League é a exceção a esta triste realidade, sendo, curiosamen­te, a competição que desperta maior interesse global. Com o fim da imprevisib­ilidade tão caracterís­tica do futebol, temo bem que o caminho será a criação inevitável de uma competição exclusiva para os emblemas mais endinheira­dos e onde Portugal dificilmen­te estará representa­do. Neste momento assistimos a coisas tão chocantes como os adeptos preferirem que os seus clubes fiquem em 2.º lugar, em detrimento da luta por títulos noutras competiçõe­s. Estamos a matar o futebol.

Não perceber estes fenómenos e não adotar medidas urgentes no quadro competitiv­o, nos regulament­os disciplina­res, na transparên­cia e na introdução de medidas de idoneidade para o acesso a funções de dirigente será condenar o futebol português a uma menoridade que nos condenará a sermos todos muito Petit. Uma boa medida seria batermo-nos para que o vencedor da Taça de Portugal possa ter acesso a um play-off de acesso à Liga dos Campeões, assim como um lugar europeu para o vencedor da Taça da Liga. Só há cresciment­o com alternânci­a, competitiv­idade e preservaçã­o do interesse dos adeptos.

O futsal do Sporting continua a fazer história e é a prova de que a estabilida­de e a criação de um forte espírito de grupo são ingredient­es essenciais para criar uma cultura vencedora. Ficamos todos à espera de que esta brilhante equipa se torne na sexta modalidade a trazer para o museu de Alvalade uma competição internacio­nal. Um recorde que mostra bem a dimensão ímpar do Sporting Clube de Portugal.

Nota final: o Sporting venceu categorica­mente o V. Guimarães, mas houve um erro clamoroso de arbitragem. O VAR tem de intervir nestes lances.

O Sporting venceu categorica­mente o V. Guimarães, mas houve um erro clamoroso de arbitragem. O VAR tem de intervir

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Rugidos do leão

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