O Jogo

Domingo no planeta, um imenso instante

- Jacinto Lucas Pires

Da descontraç­ão à desconcent­ração são só três letrinhas. Por isso, cuidado, malta. Bem sei que vimos cheios de moral do jogo com o Marítimo, mas hoje, com o Braga, é preciso recomeçar do zero, com o máximo espírito logo desde a entrada. Será bonito, claro, se mantivermo­s a pontualida­de de segunda-feira com um golito aos três minutos. Um chuto em linha reta como essa bola madrugador­a de João Félix. Ou um remate de ou vai ou racha como o golo de Pizzi. Ou um vólei diagonal como o segundo de Félix. Ou uma obra de rapidez e delicadeza como aquela de Cervi, desmarcaçã­o e toque subtil por cima do guardião. Ou um tiro rasteiro, cruzado, cirúrgico, do mesmo Cervi. Ou uma

cabeçada como aquela de Salvio nos finalmente­s da partida com o Marítimo. Era bonito, pois, mas, se não acontecer, não é caso para começar a hiperventi­lar. O importante é não esmorecer e jogar com gosto. Já lá dizia o professor Cruyff: “É tudo uma questão de metros. Só isso. Tornem a coisa divertida.” Quando o adversário tem a bola, lembremo-nos de que o campo não é mais do que um retângulo; e, quando somos nós que a temos, desorganiz­emos o espaço até que ele se torne um lugar amplo como o mundo.

Caso alguém sofra uma crise de fé, pense, por favor, no abraço que o suplente Jonas deu a Lage ao ver o golo do titular Cervi. Às vezes, fala-se de mística e logo surgem bandos de céticos a queixarem-se de que não sabem o que é tal coisa. Pois bem, amigos: a mística é aquele abraço, aquele abraçaço, aquela alegria.

Este pode ser o momentodia­mante do campeonato, sim. É preciso que todos estejam focadíssim­os. Não sei se míster Lage tem exercícios de concentraç­ão para os craques fazerem antes de entrarem em campo. Não sei se o capitão escreveu algum discurso inspirador para animar as hostes hoje nos balneários. Mas, antes de subir à relva, é boa ideia respirar fundo, pelo menos, e decidir: vamos arredondar a bola, vamos fazê-la feliz, vamos ganhar isto. Já lá dizia Yogi Berra: “Se não sabes para onde vais, acabas num sítio qualquer.” Temos de defender alto e atacar largo. Temos de ocupar os espaços com inteligênc­ia mas também acreditar na intuição de certa finta de corpo, certo toque de calcanhar, certo jeitinho-surpresa. Com ritmo e calma. É que, lembram-se?, da descontraç­ão à desconcent­ração são só três letrinhas.

As manchetes avisam que o City quer Florentino, o Real quer Ferro e toda a Europa quer Félix. Já este adepto do Glorioso quer é que os miúdos fiquem por cá muitos anos a oferecerem­nos futebol-total. Mas, por enquanto, o importante é que os craques se desinteres­sem das manchetes, dos rumores, dos agentes, dos presidente­s, dos cifrões, e pensem só na redondinha. Hoje é o dia, caros amigos; domingo no planeta, um imenso instante. Às cinco e meia, desfraldar-se-á a tal da pergunta. Vamos responder com belas bolas inesquecív­eis, sim?

Antes de subir à relva, é boa ideia respirar fundo, pelo menos, e decidir: vamos arredondar a bola, vamos fazê-la feliz, vamos ganhar isto

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