O Jogo

QUE POBREZA Ter razão e nem saber porquê

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stou de acordo com o Benfica. Se as razões para a suspensão de 90 dias a Vieira se cingem à declaração após o jogo da Taça da Liga – “O que se passou hoje é algo que nos deixa bastante preocupado­s. Debaixo desta nuvem de fumo, de emails, de ‘Mala Ciao’, quero dizer-vos que, quando assistimos a um homem que está com televisões à frente, que é árbitro, que não consegue distinguir se é fora de jogo ou não, se há falta ou não no primeiro golo, esse homem não pode apitar mais” –, o castigo não só é forçado, como é contrário à própria Constituiç­ão. Não vivemos numa autocracia, nem numa oligarquia, nem numa ditadura. Tanto quanto sei, também ainda não foi decretada lei marcial. Portanto, as autoridade­s da justiça, e nomeadamen­te da justiça desportiva, não estão acima de escrutínio. Que um agente do futebol não pudesse criticar um árbitro, desde que nos limites que impõem a Lei Fundamenta­l e os demais códigos em vigor, seria um gravíssimo sinal de que a nossa democracia vive tempos ainda mais tenebrosos do que aqueles com que as sofreguidõ­es do capitalism­o e os vícios da corrupção o ameaçam. Vieira tem motivos para recorrer, e espero que lhe seja dada razão. Curiosamen­te, também estou em desacordo com o Benfica. Porque, em vez de defender a legalidade, numa atitude cívica de significat­ivo alcance político, o clube da Luz preferiu puxar para baixo, não apenas lançando mão do populismo, mas dando nota da sua estreiteza de horizontes. O que é que isto tem a ver com o FC Porto? Que espécie de argumento é esse da dualidade de critérios? Em que medida o castigo em causa é mais injusto nesta altura do que noutra? Está tudo errado na Luz. E no Dragão. E nas outras torres do futebol todas. Como está errado na Federação e na Liga, porque, se este modus operandi amargo e medíocre não desse resultados, já não era prática corrente.

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