“Sei que na Volta são mais fortes, mas vou confiante”
Luís Mendonça venceu o Troféu O JOGO/Leilosoc e já sente recompensado o regresso tardio ao ciclismo e a “transformação louca” da sua vida. “Agora é treinar, comer e dormir”, diz
A Rádio Popular-Boavista manteve a tradição de vencer as corridas de O JOGO e o autor da proeza – e leitor do jornal – visitou a redação, agradecendo o “destaque” e “prestígio”. Um gesto pouco comum
Luís Mendonça tem 33 anos, mas só corre desde 2014, depois de ter parado nos sub23. Há um ano venceu a Volta aoAlentejoenaúltimasemana conquistou a Taça de Portugal e o Troféu O JOGO/Leilosoc de forma consecutiva. Agora, o futuro não tem limites para o paredense da Rádio PopularBoavista. Que significou vencer este troféu? —Prestígio. Estou no ciclismo há poucos anos, mas já venci a Volta ao Alentejo e O JOGO. A alegria foi a mesma ou superior, porque a vossa corrida tem um histórico enorme e um destaque brutal. Vou muito motivado para o que falta da temporada. Não serei o mesmo ciclista, estarei mais confiante. E para a próxima edição, podem contar comigo, farei os possíveis para estar! Vencer o Jóni Brandão e a equipa da W52-FC Porto significa já estar ao nível deles? —São indicações. Mas tenho a noção de que à Volta a Portugal, todos vão a cem por cento; nesta fase, há uns melhor, outros pior. Numa Volta, os rivais são mais fortes. Isto deu excelentes indicações e estou a ganhar confiança. Terei mais ambição em certas corridas. Por isso, tiro excelentes ilações deste troféu e da luta com o Jóni Brandão, sempre um candidato a vencer a Volta. Quem sabe se daqui a uns anos não serei eu também... Diz estar a perder peso. Que significa isso para quem já está em forma? —Tem de ser feito com inteligência, não são só números de balança, é preciso preservar a massa muscular. Costumava andar pelos 70/71 quilos, agora baixei para os 67 ou 66 e meio. É bastante e nota-se nas subidas. Posso perder um pouco de força no sprint, mas ganhei muito a subir e posso estar na discussãodamaioriadasprovas nacionais, que são de médiamontanha. Ainda vai perder mais? —Para a Volta, será necessário. Se algum dia sonhar subir a Serra da Estrela com os primeiros, faz sentido. Mas não quero alterar muito o que faço; tenho algum receio de não estar com força suficiente. É preciso passar fome? —Isso não. Nunca passei fomenociclismo,énecessário estar forte. Para ter bons níveis de performance, preciso de estar bem alimentado. Sou muito regrado. Tento comer bem, não cometer excessos. Prefiro ter um quilinho a mais e sentir força do que deitar tudo a perder. Ser ciclista é das profissões mais duras? —É extremamente exigente, tem de se gostar muito. Tenho de ser regrado ao extremo. A minha vida é treinar, comer bem, dormir a sesta, jantar e dormir mais oito ou nove horas. Dificilmente vou sair, o tempo de treinoedescansoéosegredodo sucesso. E consigo fazê-lo devidoàvidaquetiveanteriormente, de euforia e loucura. Para mim, chegou. Que o fez voltar? —Achar que ainda tinha uma palavra a dizer – sempre tive talento para o desporto, notavao na escola – e o Rui Costa ser campeão do mundo. Fui colega dele em júnior e senti qualquer coisa. Ou era ali, aos 27 anos, ou não valia a pena. Foi uma transformação louca, porque vinha de trabalhar em discotecas, fazia uns desfiles, fazia musculação e de repente mudei tudo. Foi radical, difícil, mas em boa hora o fiz!