Paixão em estado puro
N o domingo passado, no Jamor, estava um jovem adepto do CF Belenenses à minha frente, de lágrimas nos olhos pela derrota copiosa do seu clube perante o Sporting. A pureza e a paixão genuína nos olhos de um menino abraçado ao pai. Para aquele jovem adepto, não havia uma SAD, nem camisolas com símbolos diferentes. Era o seu Belenenses. O mesmo do meu pai. Para mim, foi apenas mais uma vitória, frente a uma SAD descaracterizada, sem alma, sem história. Olhava para aquelas camisolas e interrogava-me onde estava a Cruz de Cristo, o símbolo centenário do Belém, ostentado com orgulho por Matateu, Vicente, Chico Faria, entre muitos outros. Espero que o velho Belém regresse ao convívio dos grandes, que é o seu lugar.
Aquele jogo, numa casa alheia, num ambiente desolador, reforçou profundamente a minha convicção sobre a inalienabilidade da maioria do capital da SAD do Sporting. Só há um Sporting Clube de Portugal e é impensável que o clube perca a maioria na SAD. Este é um risco que não poderemos vir a correr, sob pena de perdermos uma parte significativa do nosso património, a nossa história e identidade. A SAD do Sporting é dos seus sócios e é composta de muitas mais rubricas que as linhas do seu balanço. É o seu coração, o mesmo que move milhões de portugueses. O caminho terá de ser outro. Restruturar e modernizar o clube, alterar os estatutos de forma a reforçar a sua governabilidade e depois encontrar um parceiro de negócio. Não um acionista de capital especulativo, mas uma entidade credível e de renome internacional que permita a criação de sinergias e o desenvolvimento de uma verdadeira estratégia global. O Sporting não tem tido sucesso por falta de dono, mas sim por sucessivos erros de gestão e uma incapacidade gritante de desenvolver uma política desportiva coerente.
Há clubes que são especiais. Pela sua história, palmarés e na maioria dos casos pela paixão dos seus adeptos. É o caso do Liverpool. São 30 anos sem vencer o campeonato, mas a alma e a paixão daqueles adeptos mantêmse intactas. Em Anfield vivese o futebol no seu estado puro. Uma lição para todos, inclusive para todos nós, adeptos do Sporting. Que todos nos recordemos diariamente que o clube está acima de todos nós e que juntos estaremos certamente mais perto do sucesso. A final da Taça está aí, e espero um clube mobilizado a 100% para vencer. Cabe-nos a nós adeptos levar a equipa ao colo até à tribuna do Jamor e mostrar, uma vez mais, que nada, nem ninguém nos pode afastar do nosso destino: vencer. Esta não será, apenas, mais uma Taça, mas sim um passo decisivo
O Sporting não tem tido sucesso por falta de dono, mas sim por sucessivos erros de gestão. É impensável perder a maioria da SAD
para a pacificação e o reerguer do clube de Alvalade.
Por falar em paixão, neste fim de semana temos a possibilidade de vencer a segunda Taça dos Campeões Europeus de hóquei do nosso palmarés. Seria uma proeza fantástica, 3.º título máximo coletivo europeu numa só época. É hora de agarrar o destino com as duas mãos e o stick. É a oportunidade de vencer o 35.º título europeu do clube e reafirmar o estatuto único do Sporting Clube de Portugal no desporto mundial. Paixão e coração é o que se pede para este fim de semana!
Nota final: a direção de Frederico Varandas repudiou, e bem, mais um ato de vandalismo/violência, neste caso nas imediações do pavilhão da Luz. A passividade dos organismos públicos em Portugal é uma vergonha. Contudo, espero bem ver sempre esta firmeza, seja qual for o rival envolvido. A minha memória não é curta, nem seletiva, nem me consigo esquecer das muitas desconsiderações e faltas de respeito por parte do nosso rival do Norte. É tempo de todos percebermos em Alvalade que o caminho do sucesso passará inevitavelmente por uma estratégia própria de afirmação. Para recuperarmos o nosso lugar, alguém terá de ficar para trás. Não há rivais preferidos, pois a nossa glória far-se-á das nossas conquistas e nunca das derrotas alheias.