A tradução certa do juízo final
FC Porto está, de facto, a fazer época acima da anterior. Pelo menos até ao desfecho desse “pormaior” que é o campeonato
S érgio Conceição deu mais um contributo importante para a compreensão desse futebol tão incompreendido – muitas vezes incompreensível – que é o português. Dir-se-ia que esteve ao nível do tradutor que, na difícil missão de transportar palavras e conceitos de um idioma para outro, acerta em cheio nas escolhas. Ao traçar um paralelismo entre as duas temporadas como treinador do FC Porto, definiu a importância do título, daquilo que significa para os adeptos ser campeão – quase tudo, ou seja, o resto conta pouco! Disse Sérgio que, na época passada, os dragões foram à meiafinal da Taça da Liga e este ano à final; foram à meia-final da Taça e este ano à final; foram aos “oitavos” da Champions e este ano aos “quartos”. “E no ano passado lutámos pelo campeonato até ao fim, este ano também”, completou. Tudo certo, só que ao contrário da conclusão que tirou (“Não há mais nada a dizer”), há ainda muito para dizer. No ano passado, o FC Porto lutou até ao fim e ganhou mesmo o campeonato, impedindo o penta do Benfica. Percebe-se o discurso positivo e motivador nesta fase crucial da época, que ele mesmo já descreveu como sendo “à Porto”, mas se este ano não revalidar o título (mesmo ganhando a Taça), esta argumentação vai parecer tirada do mesmo manual a que recorre Jorge Jesus quando quer valorizar o palmarés – sim, o mais importante é estar nas decisões... Só que nem os adeptos nem a única vaga direta na próxima Champions se compadecem com filosofias. Raciocínio semelhante vale para Bruno Lage, apesar dos méritos devidos. Mesmo tendo recuperado de um atraso que foi de sete pontos e dos tais jovens que lançou (nem é anormal, se pensarmos que havia “consagrados” lesionados e apostou naqueles que “levaria para a selva”), acabar em segundo será uma frustração. É quase uma “lose-lose situation”, pois em ambos os casos há muito a perder e tudo o que conta é o título.
Bruno Lage e o Benfica estão num dilema semelhante: o que de bom e elogiado fizeram até aqui pode valer pouco ou quase nada dentro de uma semana