O Jogo

O futebol é mesmo uma grande paixão

- Jorge Costa

A Champions deu-nos dois grandes jogos, que quase fizeram esquecer o ruído dos bastidores do futebol português

O Tottenham soube aproveitar a juventude e uma certa ingenuidad­e do Ajax em certos momentos do jogo

N uma altura em que, particular­mente e infelizmen­te em Portugal, se coloca muito em causa o que é o futebol e em que proliferam as coisas más que se fazem em nome dele e à volta dele, julgo que os dois jogos da Liga dos Campeões foram uma demonstraç­ão séria e inequívoca de que o futebol é o melhor desporto do mundo, pela paixão, pelo fator surpresa, pela espetacula­ridade. As meias-finais da Champions tiveram tudo isso e, mais ainda, a beleza dos golos e o ambiente extraordin­ário criado pelos adeptos. Estive como espectador em Liverpool, no jogo com o FC Porto, como já aqui escrevi, e vivi aquele ambiente único que os adeptos criam em apoio à sua equipa. Uma coisa de arrepiar. Nesta meia-final com o Barcelona, ultrapasso­u tudo – aquele final depois de a equipa dar a volta ao resultado e apurar-se para o jogo decisivo foi algo de emocionant­e. Primeiro cantando o hino da equipa, o “You’ll never walk alone”, e depois o “Imagine”, um tema eterno de John Lennon, que momento! Percebeu-se facilmente a identifica­ção dos adeptos com a equipa e isso também ajudou a esta reviravolt­a histórica e épica e que dificilmen­te sairá da memória de quem a viu e viveu. Muito da vitória inglesa esteve na crença e na vontade que os ajudou a eliminar algumas fragilidad­es ofensivas criadas pelas ausências de Salah e de Firmino, que tão importante­s têm sido ao longo da época, quer internamen­te quer nos jogos da Champions e em todo o seu percurso. Claro que houve um quarto golo que foi inadmissív­el, a este nível um erro coletivo da defesa do Barcelona, daquela maneira, não se admite, mas deixou-me a pensar. Acho que tenho de ter mais paciência com os meus jogadores, porque errar é mesmo próprio do homem. Também na outra meia-final houve uma reviravolt­a, Tinha falado aqui na semana passada que o Ajax poderia ser tramado pela juventude da equipa, que a leva a ser de algum forma ingénua em alguns momentos do jogo. O Tottenham soube aproveitar esse facto e colocar-se pela primeira vez numa final da Champions, fruto também da inspiração de Lucas Moura, que há de um dia contar aos netos que foi um herói improvável numa noite memorável, e que fez esquecer a ausência de Kane, a grande referência do ataque da equipa inglesa.

Falei aqui de dois grandes jogos, que agradaram com certeza a quem os viu, e quase nos fizeram esquecer o grande ruído que anda nos bastidores do futebol português e que é mais forte com a aproximaçã­o do final do campeonato. Há acusações, suspeitas, ameaças, fala-se tanto à volta do futebol que quase nos esquecemos do que é mais importante, o futebol jogado. Hoje pode ser um dia crucial para o campeonato em termos de decisão do título. O que eu desejo profundame­nte é que, independen­temente de quem sair a sorrir desta jornada, se fale essencialm­ente de futebol, ou que haja motivos para falar apenas do futebol e do desporto fascinante que ele é e que os árbitros só sejam motivo de falatório pela positiva. A ver se há alguma paz neste nosso mundo do futebol.

 ??  ?? Jogo do Bicho
Jogo do Bicho

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal