O Jogo

QUERIAM O QUÊ? Prometeram-nos justiça

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Benfica tem razão quando acusa Rui Moreira de se ter deixado cair no ridículo, e eu venho escrevendo o suficiente sobre o modo como algumas figuras públicas celebram o direito de se comportare­m como bárbaros para sabê-lo bem. Mas também pergunto: como espera o Benfica que se comporte um adepto do FC Porto depois do que se passou em Vila do Conde? Como espera o futebol que os adeptos acatem erros grosseiros, este e outros mais grosseiros ainda – que os há –, quando lhes prometeram que os erros iam acabar? Foi isso que a sobrecarga de recursos (técnicos e até humanos) despejada sobre a arbitragem de futebol provocou: até pode haver menos erros, mas são mais surpreende­ntes, mais aviltantes e, por isso, mais graves. E o erro (se é que não são dois) de Hugo Miguel e Luís Godinho no Rio Ave-Benfica – pelo momento em que acontece, pelo resultado com que se verifica, pelo ponto em que o campeonato está – traz consigo conjuntura suficiente para qualquer adepto se convencer a si mesmo, e ainda que procure racionaliz­ar, de que decidiu a liga. Quer dizer: os próprios árbitros estão convictos de que na próxima jornada, em que se consagra o campeão, ficarão fora das nomeações, por castigo. E pouco disto é inédito, claro. Campeonato­s houve, se a memória não me falha, em que nem sequer há discussão: foi a arbitragem que os decidiu. Mas, agora, há um monte de árbitros e de operadores de câmara e de máquinas e de repetições, em que se gastou uma fortuna e – sobretudo – a que se sacrificou a respiração, a estética e a própria identidade do jogo. Como espera o Benfica e como espera o futebol que reajam os lesados, neste momento, perante um tão cabal estreitame­nto das suas perspetiva­s, sob um tão irreprimív­el impulso de responsabi­lizar outrem?

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