O Jogo

AUGUSTO INÁCIO “Bruno fez um trabalho

- CARLOS PEREIRA SANTOS JOÃO MAIA

Augusto Inácio, 64 anos, voltou a fazer o que gosta, ser treinador de futebol. Contra as previsões de muitos, salvou o Aves de descer de divisão. Quando chegou o cenário era negro. O homem voltou

Augusto Inácio regressou a dias felizes, onde mais gosta de estar, onde se sente confortáve­l e onde conseguiu os maiores sucessos da sua vida, ao cargo de treinador, depois de um passado de glória como futebolist­a, no Sporting, clube do coração, e no FC Porto. Temos o treinador de volta. Acabou o diretor... No hotel onde reside ocasionalm­ente, o Holliday Inn, em Gaia, espaço privilegia­do dos benfiquist­as para fazerem os seus estágios a norte, este sportingui­sta não podia deixar de falar do... Sporting. Eis o resultado de uma agradável conversa. Voltou ao seu lugar de conforto... —A vida proporcion­ou-me voltar a ser treinador e foi um bom regresso. Vim para o Aves, corri um risco muito grande, mas hoje olho para trás e vejo que foi o melhor que podia ter feito. É um regresso definitivo ao cargo de treinador? — Não estou a imaginar-me mais ser diretor. Aceitei ser diretor, quando o Bruno de Carvalho foi eleito, mas foi mais no sentido de ajudar o Sporting, que precisava muito naquela altura. Em termos financeiro­s perdi muito dinheiro, porque tive oportunida­des de trabalho, mas valeu a experiênci­a do que é ser diretor. Fiz um trabalho positivo, porque ficámosems­egundoluga­rcom o Leonardo Jardim, naquelas condições, e acabámos por ganhar a Taça de Portugal com o Marco Silva. Mesmo sem ganhar o título, foi um período vencedor, porque sem dinheiro fazer o que fizemos foi realmente excecional. Não tínhamos os orçamentos do FC Porto ou do Benfica... Martirizou-o o que se passou com o Bruno de Carvalho? — Tive pena, porque o Bruno de Carvalho, pelo menosenqua­ntoeuláest­ive, fez um trabalho fantástico e o Sporting está hoje a tirardivid­endosdesse­trabalho. Principalm­ente nas modalidade­s amadoras. Voltou com o hóquei em patins e acaba de se sagrar campeão europeu, com o ciclismo, com o voleibol, trouxe mais modalidade­s para o clube e sempre a lutar pelos títulos. Na

”A seguir a ter sido campeão pelo Sporting, em 2000, se tivesse empresário teria chegado mais longe. Aceitei alguns convites que não devia ter aceitado” Augusto Inácio Treinador do Aves

época passada, em termos de modalidade­s, ganhou tudo. Portanto, foi um presidente marcante, só não venceu o campeonato nacional de futebol. Depois, já não estava lá, já não posso falar sobre o que se passou. Fiquei com muita pena porque acho que ele tinha qualidades para ser presidente do Sporting por muitos anos.

Por que saiu? — É público... Não falava com o Jorge Jesus há muitos anos, ele ia ser o treinador, e não me interessav­a nada ter um cargo como o que me ofereceram, que era nas relações internacio­nais, e saí, naturalmen­te. Ter sido campeão pelo Sporting pressupunh­a uma carreira mais rica, mais nivelada por cima... — Fui kamikaze em muitos momentos... Aceitei convites que não devia ter aceitado. Se eu tivesse um empresário em 2000, a minha carreira poderia ter sido muito melhor. Mas as coisas surgiam e eu ia aceitando. A seguir ao Sporting, veio o Vitória de Guimarães, que estava a lutar para não descer. O Vitória já era um clube visto como candidato à Europa. Mas, nesse ano, a realidade era diferente. Salvámo-nos de descer na última jornada. No ano seguinte, com 19 jogadores novos, ficámos em oitavo. E depois, sim, foi o ano marcante da minha carreira, a equipa em que mais gostei de trabalhar. Ficámos em quarto lugar e mesmo assim não fomos à Europa por causa dos rankings… Jogávamos muito. Era o Porto do Mourinho e o Guimarães do Inácio. Era um grupo fantástico, trabalhava­m sempre nos limites, Não é a melhor recordação, porque essa é o Sporting de 2000, mas adorei essa época em Guimarães, foi realmente marcante.

“O Sporting está hoje a retirar dividendos do trabalho que o Bruno fez, principalm­ente nas modalidade­s amadoras”

“Corri um risco muito grande ao vir para o Aves, mas hoje olho para trás e para o que conseguimo­s e... não me arrependo”

“Saí do Sporting porque não falava com o Jorge Jesus há muitos anos. Como ele ia ser treinador...”

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