Fora da caixa Joel Neto
Que Pedro Proença pretenda recandidatar-se à Liga de Clubes só pode surpreender quem não esteja atento aos sinais grandes, quanto mais aos pequeninos. É evidente que, enquanto Fernando Gomes não se mudar de vez para a Suíça, Proença quererá continuar na Liga. Depois, só não ficará ele com a FPF se conseguir chegar à Suíça primeiro. É tão legítimo como expectável, porque se trata de um homem com competências variadas, profundo conhecimento do futebol e bastos apoios. Mas assusta-me que faça um “balanço positivo” da época que agora finda. Ou sequer do mandato que executou. Ou eu vivo noutro planeta, ou estes foram alguns dos anos mais difíceis da história do futebol português. O ódio entre clubes chegou a níveis poucas vezes dantes registados (se é que alguma vez). O VAR, de que Proença tanto quis que fôssemos pioneiros – e sem qualquer preparação –, pode até ter reduzido os erros de arbitragem, mas tornou-os mais graves. O populismo recrudesceu. Clubes colapsaram de diferentes maneiras, como o Belenenses e o Arouca são apenas dois exemplos recentes. Outros continuam por adaptar-se aos novos modelos do mercado europeu, e em vários domínios: a propriedade de passes de futebolistas, o fair play financeiro... E, como se isso não bastasse, Portugal continuou a ver acentuado o fosso nos rankings de onde provêm as oportunidades que lhe vinham proporcionando os recursos com que ia tentando disfarçar o progressivo distanciamento para o topo europeu. Devemos considerar, em tal contexto, a redução do passivo, a reorganização de processos e um melhor “sound bite” suficientes para um balanço positivo? Eu não considero. E teria bastante mais facilidade em reconhecer os méritos da recandidatura de Pedro Proença se ele tivesse pelo menos dito: “Também temos de corrigir os muitos erros que cometemos.”