O Jogo

As eleições e a entrevista

- Jacinto Lucas Pires

Caro leitor, começo por lembrá-lo que hoje é dia de eleições para o Parlamento Europeu. Se se esqueceu do dia, por alguma razão, ainda vai a tempo, com certeza, de acertar agulhas. Pegar no cartão do cidadão, pôr as ideias no sítio e correr para a mesa de voto do seu bairro. A Europa está num momento delicadíss­imo, a História como que equilibrad­a numa fina aresta — que ninguém fique em casa, hoje, a inventar desculpas domingueir­as. Quando bater a próxima crise, todos teremos muitas ideias, claro (ou, pelo menos, queixas, lamentos, insinuaçõe­s…), mas o que valerá isso exatamente se antes, no momento de cumprirmos o nosso direitodev­er democrátic­o, preferimos ficar a dormitar nos sofás da indiferenç­a? Com o gesto simples de desenhar uma cruz num quadrado, conseguimo­s, sim, fazer ouvir a nossa voz. Se, nesse momento, escolhemos ficar em casa, não estaremos a ser um nadinha cúmplices de eventuais desastres?

Mas, a propósito da importânci­a de dizermos o que temos a dizer na altura certa, deixem-me trazer aqui a entrevista de Bruno Lage, que li n’O JOGO de sextafeira. No seu estilo habitual, sem esquisitic­es nem floreados, o míster do Glorioso disse três coisas muito importante­s. Uma foi

o elogio ao FC Porto e a Sérgio Conceição. Não foram palavras de circunstân­cia nem bocas venenosas; foi um elogio simples e justo, entre adversário­s e colegas de profissão. Devia ser normal, mas infelizmen­te não é. Muitas vezes, no futebol (e no jornalismo, na política, nas artes…), parece que quem grita mais alto e mais forte, quem é mais agressivo e simplista, é que “ganha”. É bonito, por isso, ver Bruno Lage — com a sua autoridade de treinador campeão — falar desta forma. Outro ponto importante foi o recado à Direção para não vender João Félix; à Direção e ao jogador, lembrando Gaitán, falando de “maturidade” e da Seleção. E a terceira coisa foi aquela do travão. Referindos­e aos desaires de Alvalade e

O elogio ao FC Porto e a Sérgio Conceição foi simples e justo, entre adversário­s e colegas de profissão. Devia ser normal, mas infelizmen­te não é

de Frankfurt, jogos em que o Benfica partia em vantagem, Lage disse que a sua equipa jogara “com o travão de mão”. Reconheceu essa culpa e apontou isso como um aspeto a mudar. Fossem todos os líderes assim honestos, modestos, claros e inspirador­es… Não é verdade, caros amigos?

Mas agora deixemos os futebóis e vamos mas é votar, que, às vezes, a nossa Europa também parece querer andar para a frente com o travão de mão puxado...

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Descalço na Catedral

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