O Jogo

NUNO PINTO “A maior vitória é ficarcurad­o”

- FREDERICO BÁRTOLO

O V. Setúbal assegurou a permanênci­a, mas a bola é dispensada nesta entrevista. A mandar um linfoma para trás das costas, Nuno Pinto exibe a O JOGO o sorriso que o ajudou a ganhar a maior das guerras

Nuno Pinto está a terminar a maratona. Foi-lhe diagnostic­ado um linfoma em dezembro, ao qual ganhou a batalha. Até 13 de junho, o atleta de 32 anos do V. Setúbal cumprirá os tratamento­s no IPO de Lisboa e detalha a O JOGO a superação, que culminou com oito minutos no último jogo da liga. Oito minutos de bola que foram a força para vencer a guerra.

Depois de cinco meses de tratamento, como foram aqueles oito minutos em campo? —Falei com o capitão, o Vasco Fernandes, e disse-lhe que queria duas coisas: a permanênci­a do V. Setúbal e poder jogar no último jogo. Disse isto um mês antes do final do campeonato,depoisdose­gundo exame de contraste ter confirmado que já não tinha o linfoma. Os médicos disseram que não jogava mais esta época e meti na cabeça que ia conseguir. Só graças aos meus colegas é que poderia jogar porque tínhamos de ter a permanênci­a assegurada e o Rio Ave não ter a Europa em jogo. Não queria afetar a verdade desportiva. Felizmente, ganhámos ao Chaves e festejámos. Vou confessar: nem vi esse

jogo.

E podia jogar mais? —Pedi aos médicos para parar o tratamento, que decorria à quinta-feira, de 15 em 15 dias. Eles recusaram, mas já treinava há dois meses e meio. Acabaram por autorizar-me a jogar, mas pouco tempo. Até brinquei com o míster Sandro: ‘Se me tirar antes dos 10’, recuso-me a sair [risos]’. Agradeço-lhe. Nem dormi nessa semana. Foi mais difícil informar o plantel ou a família? —O plantel ficou muito abalado. Deilhes força, transmitil­hes que ia ultrapassa­r “Cádiz tem tudo o que se quer num ponta de lança” O lateral do V. Setúbal elogia o plantel sadino. Cádiz, a caminho do Benfica por quase três milhões de euros, merece os aplausos: “É um excelente jogador e um grande profission­al. É tecnicamen­te forte, alto e possante. É rápido também. Tem tudo o que se quer num ponta de lança. Dá garantias.” O atacante venezuelan­o de 23 anos esteve emprestado ao Vitória pela Sanjoanens­e e acabou a temporada com dez golos. Um progresso que deve relembrar, segundo Nuno Pinto: “Ainda no outro lhe disse, ‘estiveste nos sub-23 e deste o salto. Futebol é momento.”

Nuno tem três filhos. Beatriz, de 12 anos, entendeu o mediatismo. O bebé Danny dormiu no carrinho durante a entrevista

o linfoma. Porém, foi mais difícil comunicar a quem amamos. Fui preparando a minha mulher [Cátia]. Quando senti o papo na barriga, depois de os valores das análises não estarem bem. Fui para a biópsia preparado. Ela chorou tanto, mas acompanhou-me e foi o meu pilar. A sua filha de 12 anos apercebe-se do mediatismo? —Ela pratica natação e sinalizámo­s o colégio e os professore­s. Pedimos paciência. Chorou ao início, mas alegrou-se por saber que estaria mais tempo com ela. Agora, com as notícias, tem outra noção...

Pensou deixar o futebol? —Nunca tive momentos de pânico. Não achei que terminaria a carreira, mas a maior vitória é estar curado, voltando ou não aos relvados. Não tinha sono e passava pelo quarto dos meninos e pensava que ia superar aquilo por eles. De acordo com a DireçãoGer­al de Saúde, sete em cada 100 mil pessoas têm esta doença. —Agora se fizermos essas contas nos futebolist­as é para aí um num milhão. Claro que pensei ‘porquê eu?’, mas a minha infância não foi fácil. Deu-me a força para esta barreira.

Como quer ser lembrado? —Pelo profission­al que sou, não por esta doença. Nem me sinto um herói. Posso ser um exemplo, porque posso levar as pessoas a fazerem análises mais cedo. Isso foi decisivo no meu caso. Posso alertar, mas há tanta gente tão doente.

“Quero ser relembrado pelo profission­al que sou. Foi por isso que se solidariza­ram comigo. Não me sinto um herói” “Os médicos disseram que não jogaria mais esta época. Meti na cabeça que ia conseguir. Nem vi o jogo da festa em Chaves” “Não quis afetar a verdade desportiva. Só jogava se as contas da liga estivessem resolvidas”

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