O limbo existencial do atual SC Braga
Terminada a época desportiva no futebol, começam a ser feitos os tradicionais balanços. A pergunta impõe-se, claro: foi uma boa ou má época desportiva, no que respeita ao futebol do Braga? O sentimento que está, de uma forma geral, espalhado pelos adeptos é negativo: a época foi má. Alguns referem mesmo para uma época desastrosa e apontam o dedo a António Salvador; outros, mais comedidos, consideram que a época foi má apenas porque as expectativas iniciais eram muito altas. Há factos que são incontestáveis: para a equipa B, a época foi péssima: desceu ao Campeonato Nacional, ao partilhar os dois últimos lugares com o seu rival geográfico. Para muitos, continua a não fazer muito sentido por que é que Abel Ferreira – que até transitou da Equipa B para a equipa principal e que, por isso, sabe bem o que é gerir uma equipa B – não cedeu alguns jogadores à equipa B nos momentos críticos, jogadores que não eram para si opção. Falo de Diogo Figueiras, Eduardo, Ailton ou mesmo Fábio Martins. Seriam ajudas preciosas e – especulemos – poderiam evitar a descida de divisão. Já no que concerne ao futebol feminino, a época foi histórica: garantimos pela primeira vez o lugar cimeiro da tabela classificativa do Campeonato Nacional. Quanto à equipa principal, é certo que, se atendermos unicamente aos resultados, a época foi mediana: ficamos no quarto lugar da liga (o que tem sido o normal nos últimos anos: seis quartos lugares nos últimos dez anos), com uma distância bem significativa para o quinto classificado (15 pontos); além disso, nas Taças atingimos as meias-finais, o que, na verdade, como resultado nem é mau, mas
também não é bom. Mas se atendermos ao processo (as competições na sua linha temporal), o certo é que o Braga esteve sempre nos lugares cimeiros, lutou até ao fim com os “crónicos” grandes e foi muitas vezes confundido com um candidato ao título. Por isso se entende que, no recente comunicado da SAD que anunciou a manutenção da Abel Ferreira no comando da equipa técnica para a próxima época, se tenha expressamente referido “o balanço globalmente positivo do percurso na equipa principal” na época que findou. A dificuldade em fazer um balanço assertivo (a época foi boa ou má?) tem muito a ver com a circunstância de que cada vez mais o SC Braga está numa espécie de limbo: em termos estruturais, parece afastar-se definitivamente do pelotão da maioria dos clubes (digamos, dos G15…), revelando superioridade desportiva e organizativa relativamente a estes. Mas, apesar de estar mais perto dos primeiros, mordendo-lhes os calcanhares, ainda não está Saber se a época foi boa ou má depende da perspetiva do adepto: preferimos ser o último do grupo dos primeiros ou o primeiro do grupo dos últimos? com eles. A já tradicional discussão sobre a necessidade de aumentarmos a massa adepta parece esbarrar num círculo vicioso: precisamos de aumentar os adeptos para sermos campeões e precisamos de ser campeões para aumentarmos os adeptos. Existem sempre algumas tensões nos grandes clubes, como o Braga, que vêm ao de cima nos momentos menos bons. É normal. Saber se a época foi boa ou má depende da perspetiva do adepto: preferimos ser o último do grupo dos primeiros ou o primeiro do grupo dos últimos?