Júlio Mendes bate com a porta
Presidente e Direção queixam-se de “clima de guerrilha” e demitem-se
Pouco mais de um ano após ter sido reeleito, Júlio Mendes diz que a oposição nunca aceitou o resultado e partiu para os insultos. Clubes olham para ele como figura consensual para se candidatar à Liga
O anúncio apanhou toda a gente de surpresa. Numa suposta conferência de Imprensa destinada a fazer o balanço da época, Júlio Mendes entrou no auditório do centro de treinos acompanhado pela restante Direção e presidentes do Conselho Fiscal e Conselho de Jurisdição e, depois de ler um longo comunicado, apresentou a renúncia ao cargo de presidente do Vitória. A restante Direção e órgãos sociais saem também com Mendes.
A divisão da massa associativa entre os que apoiam e criticam a Direção, cenário especialmente potenciado após o último ato eleitoral, em março de 2018, e a impossibilidade de alterar o modelo da SAD, de maneira a atrair investimento externo, estiveram na base da decisão de Júlio Mendes. O ainda presidente não está disponível para concorrer a novo ato eleitoral, posição que se estende a todos os elementos da equipa diretiva, mas tal não invalida que seja visto como uma figura que reúne consensos, dentro e fora do G15, para se candidatar a presidente da Liga. Até 7 de junho é possível apresentar uma lista para concorrer com Pedro Proença e, nesse sentido, Júlio Mendes é um nome bem visto por muitos clubes depois de um período de mais de sete anos como líder do Vitória.
Na última jornada do campeonato, quando o Vitória recuperou o quinto lugar ao Moreirense com um triunfo em casa do vizinho, Armando Marques, vice-presidente e homem forte do futebol, foi alvo de muitas críticas por uma parte dos adeptos em pleno estádio. Esse momento ajudou Júlio Mendes a tomar esta decisão. “Parte dos sócios do Vitória não foi capaz, nunca, de aceitar verdadeiramente os resultados da eleição. O que não pode suceder é que se instale um ambiente perma
“O clube está dividido, com permanentes conspirações e posturas de descrença”
Júlio Mendes Presidente demissionário do V. Guimarães
nente de insulto, de injúria e de indisfarçável desejo de fracasso do Vitória. Hoje, decorrido pouco mais de um ano sobre as últimas eleições, o clube está dividido, com permanentes conspirações e posturas de descrença e desunião, tais como aquelas que ocorreram, de forma inacreditável, no fim de mais uma brilhante vitória do nosso Vitória, que permitiu alcançar o quinto lugar na classificação final”, justificou Júlio Mendes.
Num comunicado de 16 páginas, com quase 15 mil caracteres e com um tempo de leitura de 20 minutos, sem direito a perguntas no final, o presidente demissionário destacou também o modelo de SAD. “Sem financiamento acionista, que só pode ser feito se e quando for alterado o modelo de governo da SAD, muito dificilmente poderão ser obtidos melhores resultados desportivos, porque a mesma não consegue gerar receitas ordinárias que lhe permita manter os seus principais ativos e proceder, ao mesmo tempo, ao seu reforço.” Queixando-se de que em seis anos a SAD apenas recebeu 2,7 milhões de euros dos acionistas externos, respeitante a 60 por cento do capital social, Júlio Mendes voltou a destacar os dois motivos para a renúncia ao cargo. “Existe uma franja de sócios que persiste em alimentar ataques de natureza pessoal, fomentar insultos inaceitáveis, tudo numa lógica de ascender ao poder. Esta franja deixou bem claro na Assembleia Geral Extraordinária de setembro de 2018 que pretende manter inalterado o atual modelo de SAD, condenando o clube à estagnação.”
JÚLIO MENDES “Existe uma franja de sócios que persiste em alimentar ataques de natureza pessoal, fomentar insultos inaceitáveis, tudo numa lógica de ascender ao poder”
“Franja de sócios pretende manter inalterado o modelo de SAD” “Sem financiamento acionista muito dificilmente poderão ser obtidos melhores resultados”