O Jogo

“Não estou pronto para acabar”

Depois de mais um título na carreira, Jesualdo Ferreira pondera a reforma, mas…

- CARLOS PEREIRA SANTOS

“Na fase do Apito Dourado ganhámos sem ajudas de ninguém”

“O túnel tirou-me o tetracampe­onato”

Aos 73 anos, o professor Jesualdo Ferreira está perante um drama pessoal: terminar ou não a carreira, uma carreira tão cheia de títulos e de vivências, em Portugal e no estrangeir­o, que realmente se torna difícil olhar para o mundo sem ser treinador de futebol. De regresso a Portugal para umas férias, o professor conversou com O JOGO pertinho da praia de Carcavelos. A conversa perdeu-se em inconfidên­cias e memórias, algumas fortes. O professor é danado para a conversa, às tantas já era ele quem interrogav­a o jornalista. Eis o resultado em quatro páginas de um momento bem passado. Esta é a última entrevista que dá como treinador de futebol? — Pode ser... não sei, neste momento não sei. Ser treinador de futebol é uma paixão que tem mais de 45 anos. Vai ter um dia de acabar. Não estou preparado para acabar a carreira, não vale a pena andar a enganar-me. Gosto muito de treinar, gosto muito de competição, dos jogadores, dos ambientes. Não me estou a ver fora de toda esta vida. Foi uma surpresa ter terminado a ligação ao AlSadd? —Não, não foi, estava tudo previsto. Foram quatro épocas no Catar, onde as coisas correram muito bem. Foi uma atividade de créditos ganhos – ganhámos a confiança, o respeito das pessoas e do poder político do Catar. E isso foi tão importante como os títulos que ganhámos.Terminei o contrato, o Xavi vai ser o novo treinador, já estava previsto. O xeque Jassin, dono do clube, falou comigo, foi uma estratégia que traçámos na época passada. Aceitei esse pe

dido. Ainda bem que assim foi. Tive a oportunida­de de ganhar o campeonato, que já merecíamos há muito tempo. Quando terminei a minha ligação ao Al-Sadd, o xeque falou comigo, agradeceu-me o trabalho feito em prol do clube e do futebol do Catar. Continuar no Catar é uma possibilid­ade? —Talvez. Há uma série de mudanças e de projetos de futuro que têm a ver com o Mundial do Catar e querem contar comigo. Se entretanto surgir a possibilid­ade de voltar ao treino terei de pensar duas vezes, não porque o treino me chateie, ou me enfade, mas terei de avaliar as minhas capacidade­s de continuar a ser forte no campo. Já tive algumas abordagens, está de pé a possibilid­ade de integrar algum projeto desses. Vou voltar ao Catar, isso é certo. Tenho outros projetos para além do futebol. Para já... férias. Se tiver dois meses de férias, é uma conquista muito grande. Você não está mesmo preparado para abandonar o futebol... —Não, não estou preparado para terminar a carreira. Estou naquela situação de não ter perspetiva, o que é muito desagradáv­el. Fui sempre capaz de definir o que fazer no início de cada época. Neste momento, esse trabalho não existe, não há uma época para preparar. É muito estranho e vamos ver como é que vou lidar com essa situação. Se esta conversa fosse daqui a três meses, teria uma resposta...

“Não sei se esta é a minha última entrevista como treinador de futebol. Até pode ser, mas não sei como vou lidar com a vida”

“O presidente pediu-me sempre dois objetivos no FC Porto: o campeonato e passar a fase de grupos na Champions”

“Na fase do Apito Dourado foi tudo ganho com água do Luso, sem ajudas de ninguém. Jogávamos muito futebol”

“Ser treinador de futebol é uma paixão que tem 45 anos. Não vai ser nada fácil acabar com a carreira. Nada mesmo”

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal