O Jogo

“SACUDIMOS O BASQUETEBO­L”

Norberto Alves, o homem que levou a Oliveirens­e ao bicampeona­to

- PAULA CAPELA MARTINS

Norberto Alves, treinador da Oliveirens­e, passou em revista a época em que venceu Supertaça, Taça Hugo dos Santos e Liga. Faltou a Taça, perdida para o FC Porto, para fazer a dobradinha em ano de bi

A Oliveirens­e é bicampeã nacional. Na final do play-off, em casa, venceu o primeiro jogo e perdeu o segundo, ganhando depois duas vezes na Luz.

Esta final foi mais difícil do que a do primeiro título?

—Sim. Por um lado, o Benfica tinha jogadores muito bons e, com a entrada de Carlos Lisboa, a equipa rendeu mais; por outro lado, perdemos jogadores importante­s. Agora que ficou 3-1, pareceu fácil, mas não foi. A chave foi o terceiro jogo: estávamos a perder por sete/oito pontos e a equipa mostrou o que a caracteriz­a, que é uma força mental tremenda e uma coesão enorme.

O que aconteceu no segundo jogo e o que disse aos jogadores?

—Aconteceu que o Benfica teve 42 lances livres e nós 23. Já tínhamos venci dona Luz e sabíamos que era possível. Temos uma grande cumplicida­de e sabíamos que o terceiro jogo ia ser determinan­te. Foi importante termos o núcleo duro da época passada e um espírito coletivo tremendo.

No quarto jogo, em que momento sentiu que ia ser campeão?

—Tínhamos de entrar bem e não os deixar ganhar confiança. Depois do intervalo, eles reagiram, mas sabíamos que se colocássem­os intensidad­e defensiva, não iriam resistir a um segundo momento. Somos uma equipa baixa e o nosso modelo não pode ser assente em meio campo, mas em muita defesa e muita transição. Aumentando a defesa, senti que éramos campeões.

A questão mental foi a mais relevante?

—Sim, é a base de tudo. E foi importante nunca deixarmos fugir o Benfica completame­nte. Surpreende­mos o adversário com uma defesa que deu um resultado fantástico no prolongame­nto, porque em três minutos virámos o jogo.

Festejar na Luz como foi?

—O que mais me sensibiliz­ou foi, a uma segunda-feira, os bilhetes esgotarem. Tivemos um apoio impression­ante e o que me emocionou foi mesmo as pessoas estarem lá.

E o abraço a Carlos Lisboa?

—O Carlos entendeu que a nossa equipa foi a melhor. Ele está de parabéns porque, entrando tarde, mudou muita coisa para melhor.

Festeja pouco. As vitórias duram-lhe pouco?

—Sim. A três minutos do fim estávamosa­ganharpor2­0pontos e acho que já tinha passado. Comemorei com os adeptos, mas tinha passado.

O campeonato também foi mais difícil?

—Sim. E este ano tivemos mais gente nos pavilhões. A Oliveirens­e sacudiu o basquetebo­l e a modalidade precisa disto. A Bloomberg publicou um estudo em que, em 18 mercados do mundo, esta modalidade surge atrás do futebol. Precisamos de a promover. Às vezes criticam as equipas portuguesa­s por não conseguire­m competir internacio­nalmente, mas saibam que uma equipa de andebol ou hóquei, se tiver dois milhões de orçamento, pode ser campeã

da Europa; as melhores equipas da Euroliga têm 50 milhões.

Contratou a meio da época porquê?

—Porque tínhamos um plantel limitado e se tivéssemos uma lesão, a época acabava. O Eddy Norelia estava a ser despedido da II divisão francesa e era acessível... Curiosamen­te, ele chega e, pouco depois, o Thomas [Thaey] lesionou-se e parou dois meses, e também o Coleman, que ficou um mês sem jogar. Apontaram-nos o dedo, mas se tivesse o dinheiro dos outros, não tinha mais um, tinha mais dois jogadores. Não se queixem, usem o que têm.

Fala muito do orçamento. Vai poder reforçar-se?

—Para ganhar, é preciso tempo, talento e dinheiro. Para a Oliveirens­e poder competir com Benfica, FC Porto e Sporting, terá de subir o orçamento, que foi esta época de 350 mil euros, para pelo menos 40 por cento do desses clubes, que está acima de um milhão, sendo que a massa salarial é mais ou menos 70 por cento desses números. Tenha eu o orçamento que tiver, vou tentar ganhar na mesma.

Para ganhar tudo, faltou a Taça. O que falhou na final?

—Sem tirar mérito ao adversário [FC Porto], entrámos no último período a ganhar e o jogo passou de normal para um jogo em que o adversário o levou para uma situação física, em que quem arbitrou devia ter estado mais atento. A final da Taça foi muito difícil. Éramos a melhor equipa. Não senti que fosse justo e foi importante, porque não nos desunimos.

Criou uma ligação especial à Oliveirens­e?

—Faltava um clique para ganhar. Era uma cidade com alguma frustração de ira finai senão vencer. Isso está ultrapassa­do. Gosto muito do clube e da maneira como as pessoas vivem a equipa.

“A final da Taça de Portugal foi muito difícil. Éramos a melhor equipa. Não senti que fosse justo. Era bonito ganhar tudo, mas foi importante, porque não nos desunimos”

“Por trás da tática e estratégia esteve uma equipa que emocionalm­ente soube lidar com estes momentos”

“Para ganhar é preciso tempo, talento e dinheiro. Sem dinheiro, não se contrata talento e não há tempo para ganhar”

“Para a Oliveirens­e poder competir com Benfica, FC Porto e Sporting, terá de subir o orçamento para pelo menos 40% do desses clubes”

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