Escândalo Catar chega a Platini
Ex-presidente da UEFA detido para interrogatório
Em causa está o encontro com Nicolás Sarkozy, expresidente francês, e Tanim Al-Thani, emir do Catar, antes da votação, em 2010. Há suspeitas de corrupção e tráfico de influências
Michel Platini foi ontem detido (e libertado já depois da meia-noite)para interrogatório – em Nanterre, nos arredores de Paris – pela unidade anticorrupção da Polícia Judiciária francesa, no âmbito da investigação à atribuição do Mundial'2022 ao Catar. A secção do Ministério Público de França dedicada aos crimes económicos (PNF) abriu o processo em 2017, com suspeitas de crimes de corrupção, associação criminosa e tráfico de influências, num caso que extravasa as fronteiras do desporto e chega ao poder político. Claude Guent, secretáriogeral do Palácio do Eliseu durante a presidência de Nicolás Sarkozy e Sophie Dion, conselheira do ex-presidente gaulês, também foram interrogados, mas só o primeiro saiu ontem em liberdade.
No centro das suspeitas do PNF, de acordo com a Imprensa francesa, está um almoço nodia23denovembrode2010 entre Platini, à data presidente da UEFA e vice-presidente da FIFA, Sarkozy e Tanim alThani, na altura príncipe do Catar e atualmente emir desse país. No passado mês de novembro, através dos documentos do Football Leaks, o jornal francês “Mediapart” já apontara este encontro como cenário de um acordo: Al-Thani comprava o Paris Saint-Germain (o clube que Sarkozy apoia e que estava em dificuldades financeiras) e lançava um canal de televisão em França; em troca, Platini ajudava o Catar a vencer a candidatura à organização do Campeonato do Mundo. A 2 de dezembro de 2010, o Catar bateu os Estados Unidos da América ao fim de quatro votações – 14 votos contra oito –, mas há outros factos que alimentam a especulação em França. Em 2011, o PSG foi comprado pelo Oryx Qatar Sports Investments, empresa fundada por Al-Thani e agora dirigida por Nasser al-Khelaifi, presidente do PSG e, também da beIN – esta emissora televisiva do Catar lançou, em 2012, um canal desportivo em França, a beIN Sports, que detém os direitos televisivos da Ligue 1, entre outras provas.
Platini admitiu, em 2015, que Sarkozy queria a vitória do Catar na candidatura, mas negou que o ex-presidente francês o tenha pressionado nesse sentido, ou que o referido encontro tenha influenciado a decisão de votar no país asiático em vez de nos Estados Unidos. O ex-futebolista mostrou-se até surpreendido com a presença dos representantes do Catar no Eliseu. “Fui o único que revelou em que país votou e fiz isso por iniciativa própria”, afirmara Platini. A lei francesa permite que um indivíduo esteja detido para interrogatório até 48 horas, mas o ex-líder da UEFA foi libertado já depois da meia-noite.
O pagamento de dois milhões de dólares da FIFA a Platini foi considerado ilícito e o francês não pode exercer funções no desporto até outubro