O Jogo

UM ESPECIALIS­TA NOTA ONZE

SÉRGIO OLIVEIRA Foi o 11.º golo de livre direto ao mais alto nível do médio, que passou a ser, a par de Alex Telles, o melhor do FC Porto no pós-Hulk neste tipo de lance

- ANDRÉ MORAIS

Há muitos anos que o FC Porto não tem referência a este nível nem atiradores de longa distância. Sérgio marca mais de 50 por cento das vezes desta forma. E quando acerta com a baliza, é vitória pela certa

O golo de Sérgio Oliveira ao Krasnodar reabriu a discussão de um tema antigo: o défice de marcadores de livres diretos no FC Porto e, também por arrasto, uma meia/longa distância que há muito reclama melhores atiradores no Dragão. Sérgio é um especialis­ta. O de ontem foi “apenas” o terceiro pela equipa principal desta forma, mas a verdade é que no pós-Hulk (2011/12) ninguém fez melhor. Até anteontem, com três golos, era Alex Telles quem mais se aproximava dos seis livres que o Incrível encaixou na baliza. Sérgio igualou-o, mas com um rácio muito superior. Afinal, ao contrário do lateral-esquerdo, nunca foi um indiscutív­el no FC Porto. Tem cerca de 4300 minutos de azul e branco vestido, contra quase 13 mil de Alex Telles. Um terço para o mesmo aproveitam­ento. É o melhor cobrador do Dragão das últimas oito épocas. E promete mais, a julgar pelo que a carreira lhe reconhece e pela disponibil­idade com que voltou do PAOK para ficar com o lugar de Herrera. Uribe, que começa hoje a treinar, será o principal rival interno pela posição.

O golo ao Krasnodar foi o 21.º de Sérgio Oliveira ao serviço de uma equipa de I Liga, seja no campeonato ou noutra prova paralela. Desses, 11 foram de livre direto. E, se alargarmos a todos os clubes e a todas as zonas do campo, o 27 dos dragões conta já 16 disparos eficazes de meia/longa distância, num total de 31 golos apontados. Mais de metade da faturação é de fora da área. “Este país não é para snipers”, como há uns meses O JOGO lhe deu a conhecer, na comparação com golos marcados em Portugal e nos outros campeonato­s europeus de fora da área. Sérgio Oliveira é, para Sérgio Conceição, um convite para contrariar a estatístic­a.

Para se ter uma noção das dificuldad­es que os dragões têm sentido ao longo dos últimos anos, basta atentar na infografia destas páginas. Mais do que três numa só temporada, só em 2014/15, com Brahimi a prometer o que nos anos seguintes nunca concretizo­u. Desde então para cá, houve expectativ­as sobre Maicon e Layún, mas só Alex Telles, especialme­nte no último ano e meio, conseguiu aprimorar o gesto.

Sérgio Conceição, que tanto trabalha os lances de laboratóri­o (em 2018/19, o FC Porto foi o melhor da Europa a esse nível), só não encontrara ainda a fórmula certa para o lance que menos depende da intervençã­o do treinador, mas bem mais da técnica e do trabalho de cada um. Agora, volta a ter dois especialis­tas à disposição em simultâneo, o que até permite o “bluff ” do jogo de anteontem. Sérgio terá mais oportunida­des com a bola descaída sobre a esquerda, Alex bate sobre a direita.

Fama de “sniper” vem desde a formação

Ainda a propósito de números, e porque estes teimam em bater certo, há um dado muito curioso em relação ao portista: somou em Krasnodar o 10.º golo pelo FC Porto (só vitórias) e os 10 primeiros golos da carreira como profission­al foram à “sniper”. No Mechelen, em 2011/12, fez três golos de livre direto em menos de dois meses. Na mesma época seguiu para Penafiel e marcou a Nacional, União da Madeira e Arouca com fortes disparos de fora da área. Em 2012/13, entrou no FC Porto e faturou cinco vezes: duas em remates espontâneo­s de longe, três de livre direto. Depois, rumou a Paços e aprimorou a chegada e entrada na área, o que até já lhe valeu golos de… cabeça.

Para fechar, uma história antiga, que um colega da equipa B nos contou em 2011/12. No final dos treinos do FC Porto B, era normal que os especialis­tas ficassem a cobrar livres diretos. Os jogadores tinham algumas bolas dispostas de forma consecutiv­a da zona em que preferiam marcar. Sérgio chegou a ter cinco para bater e marcou em todas. É certo que nos treinos (até pela barreira estática) é mais fácil. Mas não deixa de confirmar o jeito.

História: só em Penafiel e Nantes nunca marcou de livre. B, P. Ferreira, FC Porto e PAOK Fê-lo no Mechelen, FC Porto

Talismã: contando todos os golos de Sérgio Oliveira pelo FC Porto, são 10 em… 10 vitórias

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