UM ESPECIALISTA NOTA ONZE
SÉRGIO OLIVEIRA Foi o 11.º golo de livre direto ao mais alto nível do médio, que passou a ser, a par de Alex Telles, o melhor do FC Porto no pós-Hulk neste tipo de lance
Há muitos anos que o FC Porto não tem referência a este nível nem atiradores de longa distância. Sérgio marca mais de 50 por cento das vezes desta forma. E quando acerta com a baliza, é vitória pela certa
O golo de Sérgio Oliveira ao Krasnodar reabriu a discussão de um tema antigo: o défice de marcadores de livres diretos no FC Porto e, também por arrasto, uma meia/longa distância que há muito reclama melhores atiradores no Dragão. Sérgio é um especialista. O de ontem foi “apenas” o terceiro pela equipa principal desta forma, mas a verdade é que no pós-Hulk (2011/12) ninguém fez melhor. Até anteontem, com três golos, era Alex Telles quem mais se aproximava dos seis livres que o Incrível encaixou na baliza. Sérgio igualou-o, mas com um rácio muito superior. Afinal, ao contrário do lateral-esquerdo, nunca foi um indiscutível no FC Porto. Tem cerca de 4300 minutos de azul e branco vestido, contra quase 13 mil de Alex Telles. Um terço para o mesmo aproveitamento. É o melhor cobrador do Dragão das últimas oito épocas. E promete mais, a julgar pelo que a carreira lhe reconhece e pela disponibilidade com que voltou do PAOK para ficar com o lugar de Herrera. Uribe, que começa hoje a treinar, será o principal rival interno pela posição.
O golo ao Krasnodar foi o 21.º de Sérgio Oliveira ao serviço de uma equipa de I Liga, seja no campeonato ou noutra prova paralela. Desses, 11 foram de livre direto. E, se alargarmos a todos os clubes e a todas as zonas do campo, o 27 dos dragões conta já 16 disparos eficazes de meia/longa distância, num total de 31 golos apontados. Mais de metade da faturação é de fora da área. “Este país não é para snipers”, como há uns meses O JOGO lhe deu a conhecer, na comparação com golos marcados em Portugal e nos outros campeonatos europeus de fora da área. Sérgio Oliveira é, para Sérgio Conceição, um convite para contrariar a estatística.
Para se ter uma noção das dificuldades que os dragões têm sentido ao longo dos últimos anos, basta atentar na infografia destas páginas. Mais do que três numa só temporada, só em 2014/15, com Brahimi a prometer o que nos anos seguintes nunca concretizou. Desde então para cá, houve expectativas sobre Maicon e Layún, mas só Alex Telles, especialmente no último ano e meio, conseguiu aprimorar o gesto.
Sérgio Conceição, que tanto trabalha os lances de laboratório (em 2018/19, o FC Porto foi o melhor da Europa a esse nível), só não encontrara ainda a fórmula certa para o lance que menos depende da intervenção do treinador, mas bem mais da técnica e do trabalho de cada um. Agora, volta a ter dois especialistas à disposição em simultâneo, o que até permite o “bluff ” do jogo de anteontem. Sérgio terá mais oportunidades com a bola descaída sobre a esquerda, Alex bate sobre a direita.
Fama de “sniper” vem desde a formação
Ainda a propósito de números, e porque estes teimam em bater certo, há um dado muito curioso em relação ao portista: somou em Krasnodar o 10.º golo pelo FC Porto (só vitórias) e os 10 primeiros golos da carreira como profissional foram à “sniper”. No Mechelen, em 2011/12, fez três golos de livre direto em menos de dois meses. Na mesma época seguiu para Penafiel e marcou a Nacional, União da Madeira e Arouca com fortes disparos de fora da área. Em 2012/13, entrou no FC Porto e faturou cinco vezes: duas em remates espontâneos de longe, três de livre direto. Depois, rumou a Paços e aprimorou a chegada e entrada na área, o que até já lhe valeu golos de… cabeça.
Para fechar, uma história antiga, que um colega da equipa B nos contou em 2011/12. No final dos treinos do FC Porto B, era normal que os especialistas ficassem a cobrar livres diretos. Os jogadores tinham algumas bolas dispostas de forma consecutiva da zona em que preferiam marcar. Sérgio chegou a ter cinco para bater e marcou em todas. É certo que nos treinos (até pela barreira estática) é mais fácil. Mas não deixa de confirmar o jeito.
História: só em Penafiel e Nantes nunca marcou de livre. B, P. Ferreira, FC Porto e PAOK Fê-lo no Mechelen, FC Porto
Talismã: contando todos os golos de Sérgio Oliveira pelo FC Porto, são 10 em… 10 vitórias