Uma derrota que dói...uma reação que se impõe
Há derrotas que doem, há humilhações que custam a digerir. Passada a ressaca, impõe-se uma reação firme e convicta da equipa na estreia no campeonato. A Supertaça já lá vai e a equipa tem de dar uma resposta inequívoca, com garra, ambição e inequívoca vontade de ganhar. É isto que se espera de quem representa o Sporting Clube de Portugal. Não há tempo, nem margem para depressões numa época que agora se inicia e onde se exige uma prestação condigna da equipa leonina. É crucial, aliás, que a equipa alcance um dos lugares de acesso à Liga dos Campeões, esse tem de ser o foco e o compromisso da equipa. Caberá aos adeptos levar a equipa ao colo e criar a onda verde por este país.
Frederico Varandas afirmou no final do jogo que não estava preocupado. Fez mal. Depois de uma das maiores derrotas da história centenária do clube leonino espera-se do presidente serenidade, sangue frio, mas não despreocupação. E houve motivos, para além do resultado em si mesmo – e que não reflete aliás a história integral da partida (quem sonharia ao intervalo com um tal desfecho) –, para alguma preocupação e reflexão interna. É isso que se exige num clube com esta dimensão.
Primeiro motivo de reflexão, a liderança da equipa dentro de campo. Uma das coisas que me causou perplexidade foi a incapacidade da equipa em reagir à adversidade, o que aliás precipitou a copiosa derrota. A equipa delegou integralmente em Bruno Fernandes a liderança em campo, com um apagamento de todos os demais. Não vi naquela segunda parte um grito de revolta, uma voz que se impusesse aos demais e conduzisse a equipa a outro patamar competitivo. Jogadores como Mathieu, Coates, Acuña ou Dost foram incapazes de assumir a sua responsabilidade em campo. Vi jogadores desalentados e
de cabeça baixa. Pois não pode ser, é bom que a estrutura recorde a todo o plantel que no Sporting só se baixa a cabeça para beijar o símbolo. Frederico Varandas assinalou este facto e bem.
Keizer também precisa de refletir. Não gostei de ver no final do jogo o treinador do Sporting Clube de Portugal afirmar que seria difícil a equipa apresentar-se em condições nos Barreiros. De um líder espera-se outra postura, que aponte o caminho e demonstre confiança no seu trabalho e nos seus jogadores. A não repetir. Por outro lado, custa entender como é que a equipa apresenta, ainda, nesta fase da época tanta indefinição tática e tanta incerteza. Essa, aliás, foi a grande diferença para a equipa benfiquista, uma equipa segura, confiante, com os processos bem consolidados e com um treinador que sabe ler muito bem os tempos e momentos do jogo. Mesmo na primeira parte – em que a equipa leonina teve as melhores oportunidades do jogo – deu sempre a sensação que a equipa benfiquista estava mais segura e confiante no seu modelo de jogo. E isso é trabalho de treinador. Keizer fez por merecer o benefício da dúvida da nação leonina, mas é bom que entenda que no Sporting Clube de Portugal não há espaço para este tipo de derrotas e que estando a trabalhar com praticamente o mesmo plantel espera-se uma equipa de processos consolidados e com capacidade para dar resposta durante os 90’ de jogo.
Por fim, a comunicação do clube. Frederico Varandas optou de forma deliberada por uma estratégia de comunicação discreta. Faz novamente mal. Numa atividade tão mediática e com um presidente que opta e bem pela descrição, o clube não pode deixar de ter uma estratégia de comunicação ativa. Durante esta semana a equipa foi massacrada nos meios de comunicação dominados pelo nosso rival, já para não falar no empolamento da novela Bruno Fernandes. Há quem queira condicionar o mercado atual e futuro do clube. A intoxicação da opinião pública é permanente, sem que haja uma voz e uma estratégia coordenada de defesa do clube. É um erro estratégico colossal. Uma coisa eram os dislates do anterior presidente, outra é optarmos pela estratégia oposta, deixando o campo aos nossos rivais para marcarem cada vez mais seu território.
Nota final: Vítor Oliveira é um grande treinador e um senhor e este fim de semana pôs o dedo na ferida no Expresso. Rui Pinto terá cometido diversos crimes, mas a justiça portuguesa demitiu-se de investigar o conteúdo das mensagens que o mesmo denunciou. Já temos um bode expiatório.
Depois de uma das maiores derrotas da história do clube espera-se do presidente serenidade, sangue frio, mas não despreocupação