O Jogo

Fazer História, uma batata de cada vez

- Jacinto Lucas Pires

Elá abrimos a época com uma bela de uma Supertaça histórica. Assim é que eu gosto, caramba. Que Rafa, que Pizzi, que equipa, que vendaval. Mas, atenção: a Supertaça é histórica porque inaugurámo­s o calendário oficial com cinco batatas solenes, porque goleámos as estatístic­as, os especialis­tas, uma certa tradição e uma incerta superstiçã­o — mas também porque já passou à História. Agora, como reza o clichê, há que olhar em frente e pensar em cada jogo como se fosse uma Supertaça.

Rafa já tinha saído da casca há muito, mas começa este campeonato mesmo lá no alto da montanha. Por este andar (embora “andar” não seja o termo certo quando falamos do nosso craque atómico), vai partir tudo. Vejo-o indo mais longe ainda, sim. O craque achincalha­do, primeiro, ignorado depois, e “subvaloriz­ado” por fim, que finta o seu caminho até ao lugar do mito. Se o superartis­ta continuar imune aos radares de tubarões, agentes, CEOs e que tais, há de tornar-se um dos grandes símbolos do Glorioso para memória futura. Esta é uma profecia de trazer por casa, claro — até pelo que Rafa já fez. Mas também é um recado que aqui deixo: não o vendam, por favor.

Cinco batatas inaugurais,

que maravilha. Que Rafa, sim. Que Pizzi, que equipa, que vendaval. Mas também perdemos Gabriel para o estaleiro. E essa era a grande questão que se punha a mister Lage para esta outra inauguraçã­o, com o Paços de Ferreira. Jogar com Samaris, com Taarabt, ou tirar um coelho da cartola? Não é escolha que tenha a ver só com preferênci­as por jogadores ou sequer por estilos de jogo. Trata-se de uma decisão sobre o próprio mecanismo da equipa; sobre a forma como se começa a escrever cada ataque, depois de recuperada a redondinha. Com o grego no miolo, o ataque começa preferenci­almente por toque curto, em registo de futebol simples; com o marroquino aí, pomos em campo a figura especial de um carregador de pianos que também toca piano. Lage escolheu Samaris, e o mínimo que podemos dizer é que o jogo lhe deu razão.

Afinal, a nossa inauguraçã­o do campeonato também esteve à altura da História. Aquele golaço de Nuno Tavares, aquele tiro do meio da rua que o miúdo da lateral se lembrou de inventar no primeiro jogo, aquilo é a matéria dos sonhos, dos poemas líricos, para não esquecer nunca mas nunca. Ao todo, foram de novo cinco batatas. Que bonito é o futebol-alegria.

Agora há que olhar em frente e pensar em cada jogo como se fosse uma Supertaça”

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Descalço na Catedral

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