Um português a treinar na “Cascais do Japão”
Rui Gaivoto esteve a trabalhar na China na época passada e vai agora coordenar a formação do Shonan Bellmare, da primeira liga japonesa
Depois de recorrer à mímica para fazer compras na China, vai para o Japão com a missão de transformar os atletas locais em jogadores profissionais. Tem contrato até janeiro e renovação prometida
Como tantos outros praticantes de futebol, Rui Gaivoto terminou a carreira de futebolista – uma lesão, aos 28 anos, ditou o fim precoce – e dedicou-se ao treino. Tirou os cursos C e B da UEFA e abriu horizontes profissionais... até ao Oriente.
Começou a treinar nos escalões de formação, treinou os seniores no Clube Desportivo Amiense (onde fora jogador) e em 2017 foi para a China. “Fui para a China para abrir uma escola de formação, pelo Sporting. As coisas não correram bem. Estive um mês em Portugal e voltei para Pequim, em abril de 2018, para uma escola que já existia desde 2007. Fui para coordenador da escola para aplicar os nossos métodos e organização”, conta a O JOGO o treinador de 34 anos, natural de Alcanena.
A experiência foi boa a nível pessoal. Na China, Rui Gaivoto diz ter sido “chinês”. “Te- nho mais saudades da vida que tinha na China do que da vida que tinha em Portugal. Sinto saudades da multidão, da envolvência. A qualquer hora do dia ou da noite podia fazer tudo o que me apetecesse. A China é um mundo de oportunidades”, considera o treinador, que chegou a “desenrascar-se” com o Google tradutor e mímica para fazer compras nos supermercados.
O sucesso do projeto profissional também deu nas vistas e fez com que o empresário Kazuaki Maeda, com dois filhos a jogar em Portugal (no Bragança e no Oleiros) e parceria com o empresário português Pedro Faustino, lhe sugerisse nova aventura: coordenar os escalões de formação do Shonan Bellmare, da I liga japonesa.
“Adoro a cultura do Oriente e a do Japão ainda mais. Estive lá em maio e fiquei rendido. A organização, o respeito, o rigor... a educação. O Shonan Bellmare está numa fase de crescimento. Há dois anos estavam na II liga e estão a fazer aposta na formação. Vou coordenar a formação das 17 academias numa cidade com 500 mil habitantes. A ideia é fazer um trabalho de raiz, imprimir uma metodologia que permita tirar dividendos na equipa profissional”, explica Rui Gaivoto. Na terra do sol nascente, Carlos Queiroz treinou o Nagoya Grampus (1997). A aposta num português do futebol para esta missão parece-lhe natural, até porque “está à vista o que os portugueses fazem pelo mundo fora”: “Em qualquer país do mundo que haja um português, eles têm sucesso.”
O Japão, reconhece, tem uma “diferença abissal para a China”. “No Japão, os treinadores já têm algum conhecimento e já dão aos miúdos os princípios básicos, estão ao nível dos miúdos portugueses”, avalia o treinador, que parte a 29 de agosto – “Para adaptação e implementar conceitos ”– com contrato até fim de janeiro, altura em que deve renovar: “Vou com contrato até final de janeiro – a época é de março a janeiro – e em cima da mesa está uma opção de renovação de dois anos.”
Para o caso de baterem forte as saudades de Portugal, Rui já encontrou um paralelismo com o seu “cantinho lusitano”. É que Hiratsuka, cidade onde esta sediado o Shonan Bellmare, “é a zona onde toda a gente quer viver”. “É um lugar tranquilo e bonito e tem uma qualidade de vida bastante boa. É o spot de surf no Japão – é a Cascais do Japão.”