“CUIDADO! SÃO MUITO FORTES”
Treinador português do Shakhtar Donetsk tem nove jogadores na seleção ucraniana, com quem tem feito uma caminhada na liga caseira só de vitórias. Fica o alerta para Portugal...
A descoberta da Ucrânia por Luís Castro está a revelar-se uma experiência rica. Herdou o tricampeão ucraniano de Paulo Fonseca e mantém-no ganhador, com muitos dos atletas que, amanhã, defrontarão Portugal
Quando se lhe fala do Ucrânia-Portugal desta noite, Luís Castro tem apenas uma palavra para a Seleção Nacional: “Cuidado!” Não precisa de muitas mais. Na voz do treinador de futebol que tem nas mãos o poderoso Shakhtar, que é quase metade dos convocados de Shevchenko, o apelo é incisivo quanto baste, e ele sabe que a experiência dos campeões europeus fará o resto, ou seja, uma interpretação rigorosa das cautelas necessárias para enfrentar um coletivo “muito forte”. De resto, o nulo caseiro na abertura da fase de qualificação para o Euro’2020, em março, já disse muito. Quem, desde então, ganhou uma noção rigorosa dos jogadores em causa foi o próprio Luís Castro. Ele e a equipa técnica do tricampeão local estarão, amanhã, na bancada, em Kiev, na esperança de que todos os interesses se conjuguem, o melhor para Portugal e para os nove jogadores do Shakhtar Donetsk envolvidos na jornada dupla do Grupo B, para, no dia seguinte, poderem retomar, todos juntos, a caminhada no clube, feita só de vitórias no campeonato e com uma jornada decisiva mais da Champions League no horizonte.
A transição da era de Paulo Fonseca no Shakhtar Donetsk para a de Luís Castro fez-se com a discrição, a elegância e a eficiência que distinguem ambos. O atual treinador da Roma despediu-se com sete títulos caseiros e boa imagemnasprovaseuropeias. Castro sucedeu-lhe e leva dez vitórias noutras tantas jornadas, além de um triunfo de tirar o ar na última ronda da Liga dos Campeões, em Itália, com o Atalanta. Assim resumido, até pode parecer simples, embora falemos de um clube deslocado num país em guerra. Luís Castro nunca foi a Donetsk, território de conflito. O Shakhtar trabalha em Kiev e joga em Karkiv, com uma distância de 450 quilómetros a separar as cidades e, claro, com os adeptos mais longe ainda. Apesar disso, vence até nos jogos de preparação como o que encerrou esta semana de trabalho, na quarta-feira, antes de três dias de folga; os treinos recomeçaram ontem, na contagem decrescente para o calendário das seleções lhe devolver a equipa em pleno.
Entre sucessos no relvado e viagens quotidianas, é irresistível perguntar a Luís Castro se consegue manter os pés no chão. “Ando sempre metido no futebol. Nas nuvens, mas envolto em futebol, em todos os bocados que temos em casa. É um calendário muito apertado, obriga a muitos jogos, muito planeamento, muita observação em vídeo, muitos relatórios, muita revisão do que fizemos”, responde. As palavras descrevem um quotidiano dedicado e, simultaneamente, traduzem tudo aquilo de que mais gosta, fazse-lhe notar. “Sim, é o que gosto, mas é verdade que andamos um bocado fora do que é o mundo real, de estarmos estáveis, do ir dar o treino e voltar a casa. Às vezes, numa semana, passamos dois, três dias em casa, é assim a nossa vida. Isto sou eu, mas temos 14 jogadores nas seleções. Esses é que me preocupam muito, têm momentos de esgotamento”, explica, sereno perante o salto que os dias dele deram na primeira experiência a treinar no estrangeiro, do V. Guimarães para o Shakhtar Donetsk, da corrida aos lugares europeus para a defesa do título e a fase de grupos da Liga dos Campeões, com metade da seleção ucraniana nas mãos. “Cuidado!”, avisa. “São muito fortes. Muito bons jogadores, muito boa seleção, muito bem dotados, com uma identidade muito forte. Shevchenko tem conseguido muito bons resultados à frente da seleção. Todos os cuidados são poucos.”
“Os jogadores que temos nas seleções têm momentos de esgotamento”
Luís Castro
Treinador do Shakhtar