O Jogo

O MAIOR DE TODOS

Demonstraç­ão definitiva

- Joel Neto neto.joel@gmail.com

Todos os dias persigo o ideal da ironia, a que alguém chamou uma forma superior de inteligênc­ia, e quase todas as semanas procuro escrever um texto com a ironia como principal recurso. Da mesma forma, todos os dias recebo emails de leitores (a que tento responder um a um) e quase todas as semanas, ao relê-los seguidos, tento perceber como estou a comunicar. O que aconteceu com a crónica de ontem não acontece todos os dias, nem mesmo todos os anos. Porque não há semana em que não escreva aqui sobre Cristiano Ronaldo, defendendo a sua grandeza da pequenez dos que o odeiam, e julguei que já me podia considerar um admirador notório. Recebi muitos emails, favoráveis e desfavoráv­eis, e a maior parte dos leitores compreende­ra a ironia. Mas os restantes eram mais do que o normal. Uns 30 por cento destes invetivava­m-me por insultar o capitão. Os restantes elogiavam-me por, enfim, alguém ter dito o que era preciso dizer sobre ele. Não excetuavam sequer a frase em que eu o acusava de ter comprado um garoto. E menos ainda percebiam que, quando falava em “achismos” e pedia que alguém colasse os meus no cacifo dele antes do jogo com o Luxemburgo, estava a ironizar comigo próprio. “Tornou-se viral”, informaram­me. E isso não acontece, como alguns poderiam pretender, porque se trate de futebol, coisa menor. Acontece porque se trata de Ronaldo, o melhor de nós: o português em que se reuniu o máximo denominado­r comum de talento, inteligênc­ia, ética de trabalho, sucesso, alcance popular, filantropi­a, até beleza. E porque mais nada poderia irritar tanta gente. O meu texto pretendia caracteriz­ar os que desdenham de Ronaldo, não Ronaldo em si. As reações que provocou caracteriz­am-no a ele. É o maior português deste tempo, um dos grandes da história, e eu sinto-me um privilegia­do por continuar a assistir ao seu triunfo.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal