Sendo bons, mantenham-se humildes
A capacidade de o nosso presidente falar, sem nenhum papel a auxiliar, sobre todas as personalidades que receberam este ano um Dragão de Ouro merece uma nota prévia, assinalando aquilo que, mesmo sendo habitual, não deixa de surpreender. Sim, o tempo passa, a idade pesa, mas não é em Pinto da Costa, é em quem o ouve, ano após ano, a fazer intervenções com recurso a uma memória sem falhas que eu não tinha nem aos 20 anos.
Mas a boa nova foi mesmo o prémio atribuído a duas apostas da formação que já alinharam como titulares: Romário Baró, com 19 anos, e Fábio Silva, com 17. (Abro aqui um parêntesis nesta crónica para explicar que todos nós gostámos muito de ter ganho tudo o que havia para ganhar no andebol na época passada. Ainda ontem, foi fantástico ver a vitória categórica em Montpellier, mas o que estamos mesmo a precisar é de ser campeões outra vez no futebol.) Regresso ao Baró e ao Fábio pela humildade que demonstraram naquela gala que os distinguiu, com toda a justiça, como figuras maiores do futebol portista.
É com estes que apetece ganhar. Não estou a querer alinhar um onze, que não tenho competência para isso. Estou apenas a abrir o meu coração azul e branco para dizer, sem desprimor nenhum para o Marega, o Zé Luís, o Soares ou outro qualquer, que ganhar com um golo do Fábio tem mais sainete. De igual modo, tenho escrito maravilhas sobre as contratações do Uribe, do Díaz ou do Nakajima, mas, se for o Baró a fazer o último passe para o golo que há de decidir o título, tanto melhor. Na baliza está o Marchesín, a quem já temos de agradecer duas mãos-cheias de grandes defesas, mas eu gostava de ganhar um campeonato com o Diogo Costa a defender um penálti no jogo contra o Benfica.
Estou com esta bazófia, vaidoso por ter na equipa craques desta categoria, mas, na verdade, estou apenas a procurar seguir o exemplo do Baró e do Fábio, que humildemente agradeceram a todos os que naquele clube os ajudaram a ser quem são hoje como jogadores de futebol e como Homens. Ao ouvi-los reconhecer que o Dragão de Ouro tem muito de todos os que os rodeiam, a começar pela família, recordei uma frase de Baltasar Gracián. Não sei nada sobre a vida e obra deste jesuíta espanhol, mas guardei há uns anos uma frase dele numa das gavetas da memória e ela voltou agora, como que a querer ficar como conselho para esta nova geração de grandes jogadores do FC Porto: “Sê humilde quando a sorte te sorri e paciente quanto a sorte te falta.”
P.S. Para a Imprensa desportiva de Lisboa, a informação de que Fábio Silva tem agora um contrato com uma cláusula de rescisão de 125 milhões de euros vale um cantinho na parte de baixo da primeira página. A notícia de que ele estava “preso” por apenas 20 milhões tinha valido uns dias antes destaque um pouco maior. Não vai há muito tempo, fizeram manchete com o Nuno Tavares e o Tiago Dantas por passarem a ter cláusulas de 88 milhões. É preciso ter muita paciência.
Sem desprimor nenhum para o Marega, o Zé Luís, o Soares ou outro , ganhar com um golo do Fábio tem mais sainete