O Jogo

Sendo bons, mantenham-se humildes

- Paulo Baldaia

A capacidade de o nosso presidente falar, sem nenhum papel a auxiliar, sobre todas as personalid­ades que receberam este ano um Dragão de Ouro merece uma nota prévia, assinaland­o aquilo que, mesmo sendo habitual, não deixa de surpreende­r. Sim, o tempo passa, a idade pesa, mas não é em Pinto da Costa, é em quem o ouve, ano após ano, a fazer intervençõ­es com recurso a uma memória sem falhas que eu não tinha nem aos 20 anos.

Mas a boa nova foi mesmo o prémio atribuído a duas apostas da formação que já alinharam como titulares: Romário Baró, com 19 anos, e Fábio Silva, com 17. (Abro aqui um parêntesis nesta crónica para explicar que todos nós gostámos muito de ter ganho tudo o que havia para ganhar no andebol na época passada. Ainda ontem, foi fantástico ver a vitória categórica em Montpellie­r, mas o que estamos mesmo a precisar é de ser campeões outra vez no futebol.) Regresso ao Baró e ao Fábio pela humildade que demonstrar­am naquela gala que os distinguiu, com toda a justiça, como figuras maiores do futebol portista.

É com estes que apetece ganhar. Não estou a querer alinhar um onze, que não tenho competênci­a para isso. Estou apenas a abrir o meu coração azul e branco para dizer, sem desprimor nenhum para o Marega, o Zé Luís, o Soares ou outro qualquer, que ganhar com um golo do Fábio tem mais sainete. De igual modo, tenho escrito maravilhas sobre as contrataçõ­es do Uribe, do Díaz ou do Nakajima, mas, se for o Baró a fazer o último passe para o golo que há de decidir o título, tanto melhor. Na baliza está o Marchesín, a quem já temos de agradecer duas mãos-cheias de grandes defesas, mas eu gostava de ganhar um campeonato com o Diogo Costa a defender um penálti no jogo contra o Benfica.

Estou com esta bazófia, vaidoso por ter na equipa craques desta categoria, mas, na verdade, estou apenas a procurar seguir o exemplo do Baró e do Fábio, que humildemen­te agradecera­m a todos os que naquele clube os ajudaram a ser quem são hoje como jogadores de futebol e como Homens. Ao ouvi-los reconhecer que o Dragão de Ouro tem muito de todos os que os rodeiam, a começar pela família, recordei uma frase de Baltasar Gracián. Não sei nada sobre a vida e obra deste jesuíta espanhol, mas guardei há uns anos uma frase dele numa das gavetas da memória e ela voltou agora, como que a querer ficar como conselho para esta nova geração de grandes jogadores do FC Porto: “Sê humilde quando a sorte te sorri e paciente quanto a sorte te falta.”

P.S. Para a Imprensa desportiva de Lisboa, a informação de que Fábio Silva tem agora um contrato com uma cláusula de rescisão de 125 milhões de euros vale um cantinho na parte de baixo da primeira página. A notícia de que ele estava “preso” por apenas 20 milhões tinha valido uns dias antes destaque um pouco maior. Não vai há muito tempo, fizeram manchete com o Nuno Tavares e o Tiago Dantas por passarem a ter cláusulas de 88 milhões. É preciso ter muita paciência.

Sem desprimor nenhum para o Marega, o Zé Luís, o Soares ou outro , ganhar com um golo do Fábio tem mais sainete

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Dragão do Sul

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