A importância do treinador
Quanto vale hoje Domingos Duarte? Ninguém conseguiria domar e endireitar Matheus Pereira? E Ivanildo? E Gelson Dala?
J orge Jesus está a demonstrar a importância decisiva da liderança e de um bom treinador na condução de um grupo de trabalho. Jesus transformou o futebol do Flamengo, tendo entrado a meio da época com 8 pontos de atraso e vai ser campeão do Brasil. Se vencer a Libertadores entra no Olimpo do futebol brasileiro e volta a ser candidato a um lugar de sonho num dos grandes europeus. Aliás, a saída de Jesus de Alvalade na sequência do descalabro dos últimos meses de mandato de Bruno de Carvalho foi um desastre para o projeto desportivo do clube. Jesus faz falta ao futebol português e ao Sporting, onde espero que possa regressar pela porta grande para concretizar o sonho de seu pai em ser campeão em Alvalade – algo que esteve para conseguir na sua primeira época e que não sucedeu por erros crassos de política desportiva (a saída de Montero a meio da época) e de liderança. A Jesus falta humildade, é certo, mas bem enquadrado, é um daqueles treinadores que fazem a diferença e transformam jogadores e, por inerência, o futebol de suas equipas.
Aproxima-se o mercado de inverno e confesso que estou curioso para perceber qual a estratégia a ser seguida pela administração da SAD sportinguista. As sucessivas notícias na imprensa apontam para a necessidade de vender, o que não deixa de ser curioso para uma administração que se vangloriou do sucesso financeiro do mercado de verão. Com efeito, não tendo ocorrido nenhum facto passível de impactar decisivamente as receitas estimadas da época, não deixa de ser estranho esta necessidade premente de vender para fazer face a despesas de tesouraria. Aliás, vender ativos para pagar despesas correntes e a gestão do passivo de curto prazo não deixa de ser um mau presságio para o que aí vem e vem dar razão àqueles que sustentam que o clube deveria ter emagrecido o seu orçamento, dado dois passos atrás e assumir a reconstrução do futebol leonino. Os 60 M€ de orçamento não permitem competir de igual para igual com os nossos rivais e esta época não deixa de ser uma época perdida, em que não se entende qual a política desportiva e de contratações. Aliás, desde que esta administração está em funções o clube já investiu mais de 35 M€ em contratações e tirando Vietto e talvez Camacho, não se vislumbra nenhuma contratação capaz de trazer de imediato rendimento desportivo ou serem maisvalias a médio prazo. Boa parte das contratações são um desastre total, numa demonstração evidente de planeamento deficiente e incapacidade total de atuar no mercado. E a prova do que afirmo está, ainda, nas saídas de vários jovens, que o Sporting despachou por meia dúzia de tostões. Esta administração comunica mal, compra mal e vende pior. Quanto vale hoje Domingos Duarte? Ninguém conseguiria domar e endireitar Matheus Pereira? E Ivanildo? E Gelson Dala? Todos estes erros denunciam uma total ausência de política desportiva, o que não augura nada de bom para o que aí vem, em que mais cedo ou mais tarde se vai vender Bruno Fernandes e talvez Acuña ou Wendel. Aguardemos, mas ao contrário do que a narrativa oficial pretende passar, o problema não foi a saída de Raphinha, Nani, Montero e Dost, mas o desastre total de quem os veio substituir. Tirando Vietto, nenhum dos supostos reforços tem qualidade para os substituir. E Silas já o percebeu e está progressivamente, e bem, a fazer subir os miúdos da formação.
As sucessivas vitórias europeias enchem os sportinguistas de orgulho e demonstram o papel ímpar do Sporting no panorama desportivo nacional e na promoção do desporto. Não posso deixar de felicitar expressamente o Miguel Afonso por manter o que estava bem e a aposta no ecletismo, bem como a Miguel Albuquerque que tem demonstrado inequívocos méritos na gestão e planeamento das modalidades. Talvez um destes dois merecesse o Prémio Stromp, mas como o critério seguido é de premiar os presidentes – como o foram Godinho Lopes e Bruno de Carvalho – aceita-se o mesmo, esperemos apenas que este não acabe destituído e expulso.
Rui Santos anunciou no seu programa a criação de um grupo de reflexão liderado pelo meu bom amigo Agostinho Abade, um grande sportinguista. Todos os contributos são bem-vindos, mas a forma de anúncio e o secretismo sobre os membros integrantes não são um bom ponto de partida.