Sensatez do pai levou-o à baliza
Bracali desde cedo viu o lado difícil de ser profissional
Armando Bracalli viu-o jogar, aos 15 anos, e obrigou-o a escolher: guarda-redes ou outra profissão. Os primeiros sonhos de Rafael até passavam por marcar golos
Filho de guarda-redes, Rafael Bracali não tinha pensado seguir os passos do pai. Na verdade, queria até o oposto. “Não. Queria marcar golos”, ri. Até que houve um aniversário em que recebeu um equipamento de guardião, mas, quando o estreou, a “jogar com os amigos”, Armando Bracalli, hoje com 67 anos, arrependeu-se. “Sofri um golo e comecei a chorar. Ele viu, desceu lá do sétimo ou oitavo andar, pegou-me pela mão e disse: ‘Nunca mais vais à baliza. Se for para chorar, não quero ninguém na baliza’”.
Em casa, Bracali aprendeu com o pai a conviver com o lado privado da vida dos futebolistas profissionais. “Via que não era fácil”, percebia quando “chegava calado, não queria falar, triste por uma derrota ou por um lance infeliz”. “Muita gente pensa que é como se tirássemos a pele, deixássemos lá e viéssemos para casa como se nada tivesse acontecido. E não é.”
Bracali cresceu a sonhar marcar golos, até que o pai o acordou para a realidade e ofereceu-lhe uma escolha: “Um dia, viu-me jogar e disse-me que não tinha características de jogador de campo. A única opção era ir à baliza e continuar com o sonho de jogar futebol ou só estudar e escolher outra profissão”. Quando já era treinador de guarda-redes, o pai , que cumpriu toda carreira no Brasil, em clubes como Atlético Paranaense ou Remo, ofereceu-separa o ajudar: dois meses de preparação e depois ia“fazer uma avaliação nos sub-17” do Paulista de Jundiaí. O jovem Bracali ainda demorou “um mês” até ganhar coragem. “Tinha vergonha, nunca tinha calçados umas luvas, a não ser no bairro, e ia ter de me misturarcom os outros guarda-redes, ficava um pouco sem graça”. Contudo, quando deu esse passo, descobriu-se guarda-redes, “a paixão ficou”, e a gratidão também, hoje misturada com uma lição importante que Bracali treinador pode transmitir aos mais novos: “Ainda bem que tinha alguém em casa para me ajudar a ver coisas que nós, com 15, 16 anos, não vamos conseguir ver.”
“Sofri um golo e comecei a chorar. O meu pai viu e disse: “Se for para chorar, não quero ninguém na baliza”
Rafael Bracali Guarda-redes do Boavista