O Jogo

“Há qualidade, falham detalhes”

Nélson Filipe deu a primeira entrevista após deixar o FC Porto, onde esteve 18 anos, para defender a baliza da Oliveirens­e

- PAULA CAPELA MARTINS

Conquistou o oitavo título nacional pelo FC Porto, sagrou-se campeão mundial com a Seleção e mudou-se para Oliveira de Azeméis. A primeira época na Oliveirens­e está a ser uma descoberta

A época parou por causa do coronavíru­s e, isolado em casa, Nélson Filipe falou a O JOGO pelo telefone. Analisou a época no novo clube sem esquecer o tema que marcou o início de 2019/20: a arbitragem.

Como está a ser esta época na Oliveirens­e?

—Houve uma fase de adaptação a rotinas e a novos colegas, embora já conhecesse muita gente, mas, dentro do que imaginava, correu bem.

O que custou mais?

—Só ponderaria sair do FC Porto para uma equipa que lutasse pelos mesmos objetivos, porque ainda me sentia capaz de estar nesse nível. Gosto muito de jogar, mas, acima disso, gosto de jogar para ganhar. A parte sentimenta­l foi a mais complicada. O meu primeiro jogo oficial, que foi contra o FC Porto, foi difícil, mas, com o tempo, as coisas vão passando e habituamo-nos a novas realidades.

Foi a decisão certa?

—Tive a felicidade de jogar muitos anos num clube de nível mundial e a dúvida fica sempre no ar. Senti que era um desafio novo e quis arriscar. O balanço só poderei fazer no fim, mas sinto que continuo num patamar elevado e que tenho evoluído numa equipa onde há um bom ambiente.

A Oliveirens­e falha em momentos que a deixam em situação complicada, como não ganhar aos rivais diretos em casa. Como vê esta situação?

—Tem sido um handicap nos últimos anos e esta época podíamos ter conseguido algo mais. Falhámos, assumimos a responsabi­lidade. Pode ser algo mental. Também diziam que o FC Porto bloqueava com o Barcelona. Falta-nos o rastilho para ganhar aos grandes e para deixarem de nos olhar como um candidato teórico que falha em momentos cruciais.

Essa é uma mentalidad­e de equipa ou de estrutura?

—Quero fazer uma ressalva: atualmente é mais difícil ganhar e fazê-lo de forma consecutiv­a. Por exemplo, o Benfica foi campeão nacional e europeu e não ganha há três anos. Mas diria da estrutura; dificilmen­te se ganha sem uma boa estrutura. As pessoas têm de pensar em grande. Na Oliveirens­e, há qualidade, ambição, mas falham detalhes para darmos mais um passo.

As derrotas na Supertaça e em Alvalade deixaram a equipa em alerta?

—Criaram dúvida e deixaram uma sensação de impotência. Tivemos de voltar ao zero para ganhar confiança e fizemo-lo até à dura derrota na Luz.

Foram sete vitórias consecutiv­as antes de perder na Luz. A Oliveirens­e fez um mau jogo. O que se passou?

—Não querendo pôr em causa o resultado, o número de bolas paradas condiciono­u, mas, em casa, o Benfica dificilmen­te perde. Pior do que perder na Luz foram os jogos em casa com o FC Porto e com o Sporting, que nos deixaram numa situação complicada.

E o empate com o FC Porto, após vantagem de três golos?

—Não sei se foram pormenores ou incompetên­cia, ou até ambas. Nunca podíamos ter empatado – era para ganhar.

Sente que podia ter feito algo mais?

—Todos sentimos. Todos tivemos de refletir. Mas sim, podia ter feito mais. Sou sempre muito crítico dos meus jogos.

O Sporting também ganhou em Oliveira de Azeméis. Foi frustrante?

—Sim. Sem fazer um grande jogo, o Sporting pôs-se na frente. Quisemos dar a volta, mas o Sporting segurou bem a vantagem. Na segunda parte procurámos o golo mais com o coração do que com a cabeça. Isso pode resultar, mas na maioria das vezes não chega.

Todos os rivais diretos tiveram dificuldad­es com o Barcelos, a Oliveirens­e venceu duas vezes. Que

“Senti que [a Oliveirens­e] era um desafio novo e quis arriscar. O balanço só posso fazer no fim” “Atualmente é mais difícil ganhar e fazê-lo de forma consecutiv­a” “Resultados com Sporting e FC Porto deixaramno­s em situação complicada”

adversário é este?

—Um adversário que joga um hóquei muito ofensivo, que tem jogadores com qualidade e que jogam de igual para igual com os grandes. Não tinha a pressão de ter de ser campeão, mas isso não lhe retira o mérito. Na segunda volta perdeu fulgor, mas a qualquer altura regressará à melhor fase e ainda pode interferir.

E o empate em Riba d’Ave equivale aos deslizes dos adversário­s em Barcelos, São João da Madeira e Braga, por exemplo?

—Devíamos ter ganho esse jogo, mas prova que o campeonato está competitiv­o. Todos os que estão na frente perderam pontos em jogos em que eram favoritos. Jogos com equipas mais pequenas são importante­s. Se tivéssemos ganho esse jogo, ao Benfica e ao FC Porto em casa, estaríamos mais confortáve­is.

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