O Jogo

O campeão de florete que o vírus vai abater

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razão. Embora nunca o dissesse, pensava obviamente nos milhões que estavam em causa, mas também atendia à evolução positiva na China (dos 81 093 casos de Covid-19 restam 5120 ativos), ao controlo do vírus que os japoneses têm demonstrad­o (1101 casos, incrível para um dos primeiros países afetados) e, como sempre disse, ao facto de faltarem quatro meses e existirem competiçõe­s, como as do futebol, a planear o regresso em junho.

O problema de Bach, semelhante ao de tantos líderes mundiais, é a velocidade a que o vírus avança e as reações que gera. E estas apontaram-lhe de imediato o facto de ter esquecido que a maioria dos atletas não tem de momento condições para treinar, erro imperdoáve­l para quem cresceu habituado ao jogo de parada e resposta do florete.

Olhando ao seu percurso, chega a ser incompreen­sível Bach ter levado uma tal estocada: ele era o miúdo que passava os dias a jogar futebol na rua e chorou quando os pais o obrigaram a ir para a esgrima, tornando-se depois campeão olímpico (1976) e mundial (1977) por equipas; ele era o jovem da pequena Wurzburg que terminou o curso de Direito apenas quatro anos depois do seu último pódio num Mundial; ele foi o homem que se interessou pela política desportiva ao não poder competir em Moscovo’1980 devido ao boicote da Guerra Fria, tornando-se depois presidente do comité olímpico alemão e entrando no COI (1991); ele foi o dirigente que chegou ao cargo mais alto depois de uma eleição a duas voltas entre seis candidatos, um deles difícil de bater (Richard Carrión, de Porto Rico) e outro muito popular (Sergey Bubka).

Bach, indiscutiv­elmente, é um exemplo de resiliênci­a. Como se tornou um homem assim o alvo da maioria do movimento olímpico e vítima de alguns golpes internos – a notícia da rádio espanhola Cope, dizendoque­osJogosját­inham sido adiados, parece ter o dedo do seu vice-presidente Juan Antonio Samaranch (filho) – é um daqueles mistérios próprios dos dias estranhos que vivemos.

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