O Jogo

Liberdade de expressão vale perdão do TAD

Punição com coima de 40.800 euros, por ataques à arbitragem através da newsletter, foi retirada ao Benfica. FPF pode recorrer da decisão para o Tribunal Central Administra­tivo do Sul

- MARCO GONÇALVES

Juízes deliberara­m a favor do clube da Luz, sublinhand­o que, apesar do “tom duro”, as acusações “não serão suficiente­s” para daí limitar os encarnados na sua liberdade. As críticas “não são neutras”, diz-se

O Benfica foi absolvido pelo Tribunal Arbitral do Desporto da multa de 40.800 euros por críticas à arbitragem, aplicada pelo Conselho de Disciplina (CD) da FPF. O TAD apreciou a argumentaç­ão apresentad­a pelo clube da Luz, validando a defesa da liberdade de expressão, sendo que a Federação Portuguesa de Futebol pode agora recorrer desta decisão para o Tribunal Central Administra­tivo do Sul.

“A demandante [Benfica] utiliza um tom duro. São declaraçõe­s que podem ser considerad­as contundent­es, mas não serão suficiente­s para justificar uma limitação à liberdade de expressão, que apenas se deve operar excecional­mente”, pode ler-se no acórdão do TAD, que acrescenta ainda que “a imposição de limitações à mesma deve ser excecional e robustamen­te justificad­a”.

Os juízes que tomaram a decisão – à exceção de Miguel Navarro de Castro, árbitro designado pela FPF que votou vencido por “considerar que o conteúdo das publicaçõe­s/declaraçõe­s em causa nos autos tem relevância disciplina­r” –, e recordando alguma da jurisprudê­ncia em situações semelhante­s, defendem que “a liberdade de expressão engloba o direito à crítica”, razão pela qual sublinham que esta pressupõe “sempre a produção de um incómodo para o visado”. As críticas “não são neutras”, acrescenta­m, realçando que “punir disciplina­rmente a demandante significar­ia um sacrifício desproporc­ional da liberdade de expressão”.

As águias tinham sido castigadas na sequência de duas publicaçõe­s dasuanewsl­et ter, ainda em setembro, nas quais apontavam uma série de críticas a árbitros, nomeadamen­te em benefício do FC Porto, que o CD apontou como “ofensivas da honra e da reputação dos agentes desportivo­s” em relação aos visados.

O clube da Luz identifico­u, a 23 de setembro, erros, em jogos do F C Porto, às arbitragen­s de Carlos Xistra ( com o V. Guimarães), Rui Costa (Portimonen­se) e Luís Godinho (Santa Clara), atirando: “O ano passado foram 10 pontos a mais, este ano, sucedem-se os erros, sempre em benefício da mesma equipa e por equipas de arbitragem que já estiveram ligadas na época anterior a muitos desses erros que deram pontos.” Na semana seguinte, reforçando as farpas, o Benfica insurgiu-se ainda contra Tiago Martins, que apitou o jogo das águias como V. Setúbal, visando diversas decisões do juiz e acusando-ode “inventar supostas agressões ”, pois este queixou-se de ter sido atingido por uma moeda de cinco cêntimos.

“Punir disciplina­rmente a demandante [Benfica] significar­ia um sacrifício desproporc­ional da liberdade de expressão”

Alvo: críticas visavam árbitros em vários jogos do FC Porto, que águias defendem ter sido beneficiad­o

Acórdão do TAD

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Também Tiago Martins, juiz do Benfica-V. Setúbal, foi criticado, até pela expulsão a Taarabt

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