O Jogo

“Estou eternizado em Portugal”

Alejandro Marque revive uma carreira que teve o ponto alto na vitória na Volta’2013, após um final de loucos

- FREDERICO BÁRTOLO

Acarinhado no nosso país, onde sempre fez carreira, o atleta espanhol de 38 anos conta a O JOGO a nova fase do projeto do Tavira, tanto de olho no que podia ter ganho como na satisfação pelo que alcançou

Galego de origem, português de adoção. Com 18 anos de profission­al, abre o coração a O JOGO, sabendo que estará na memória por ter vencido a Volta a Portugal em 2013.

Teve a sorte de trabalhar com grandes ciclistas. Isso foi decisivo para a carreira?

—Comecei no Boavista com o David Bernabéu e o Gustavo Veloso, em 2004. Percebi que tinha de andar muito mais. Depois foi o David Blanco que convenceu o Vidal Fitas, em 2008, a contratar-me. Ajudeio a ganhar três Voltas a Portugal e aprendi muito com ele, sim.

Metade da carreira foi feita no Tavira...

—Em 2008, a equipa tinha muitos meios económicos e

era uma família. Aliás, continua o bom ambiente até com os que saíram. O Vidal Fitas conhece-me bem e gostei de voltar em 2017, mas antes fui para projetos novos, com ambições: Boavista e a OFM Quinta da Lixa apostaram forte e, em Tavira, estava tapado.

Habitualme­nte, os ciclistas precisam de fazer um top 5 para sonharem ganhar a Volta a Portugal. Fez “apenas” top 15 em 2012 e ganhou em 2013.

—Estava a trabalhar para o Ricardo Mestre em 2012 e percebi que, não tendo esperado por ele, poderia estar nos primeiros cinco. Em 2013, pela OFM, nada mudou. Estava a trabalhar para o Gustavo Veloso, fiz uma boa subida à Torre, perdendo só 15 segundos. Entrei no contrarrel­ógio para ganhar a etapa e fui “empurrado” pelo apoio do Blanco, no carro.

E a um dia de a Volta terminar, ficou quatro segundos à frente do seu colega.

—Saí em quarto da Torre e senti que os 38s para o Rui Sousa eram recuperáve­is. Faria pódio. Excelente! Estava a 32s do Gustavo,umbomcontr­arrelogist­a, e pensei que era difícil. Respeitei o trabalho que tive de fazer até ali, mas, no crono, lutei contra mim. Parei o relógio na meta, aguardei pelo tempo do Veloso e só me lembro do Blanco a festejar comigo os quatro segundos de avanço que me valeram a amarela.

Foi a grande vitória da sua vida?

—Claro, é inenarráve­l. Sou espanhol, mas estou eternizado em Portugal ao ver os nomes que estão no troféu. Até por ser das menores diferenças de sempre.

Não faltaram mais Voltas ao palmarés?

—Quem ganha uma, quer mais, mas já não faço diferenças no contrarrel­ógio. Podia ter vencido em 2011, mas parti o pulso. Depois, em 2013, poderia ter sido o Gustavo. Digo é que o grande clique se deu com a altitude: perdi peso e notei-o em 2013, vencendo. Fui terceiro em 2015, fantás

tico para quem tinha estado um ano parado.

E qual foi o pior momento na estrada?

—Diria que qualquer época em que a Torre nos corre mal, porque andamos todo o ano a trabalhar e depois ficamos arredados da discussão. Foi assim em 2019: caí e reentrei a tempo da subida, mas tive um problema mecânico e não mais consegui recolar. A subida não foi muitoataca­da:podiateres­tado com os melhores. Ainda assim, lembro-me do ataque da W52FC Porto na subida do Viso, na VoltaaPort­ugalde2017.Estava a andar muito bem, mas ficámos sem hipóteses nesse dia. Acabei em quinto.

Falou dessa época no Sporting-Tavira. Vivem agora com menos pressão?

—À medida que os anos passam, há mais motivação para tirar a hegemonia à W52-FC Porto. Havia pressão do Sporting e o clube não geria bem essa obsessão com a força do FC Porto. Diziam-nos o que fazer, quando, como ciclistas, sabemos o que fazer. Esta foi

ALEJANDRO MARQUE “Quem ganha uma Volta quer mais, mas já não faço diferenças no contrarrel­ógio. Podia ter vencido em 2011, mas também digo que a de 2013 poderia ser do Gustavo Veloso” “Esta foi uma boa solução para o Tavira” “Havia pressão do Sporting e o clube não geria bem a obsessão com a força do FC Porto”

uma boa solução para o Tavira, temos objetivos diferentes e estamos tranquilos e contentes com os nossos sponsors, o Atum General e o Maria Nova Hotel; queremos que dure muitos anos. Tive propostas com dois anos de contrato de outras equipas, mas devia um voto de confiança ao Vidal, que nos tranquiliz­ou ao longo do processo.

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