Costa teme pela UE
CRÍTICAS A cisão Norte-Sul e as acusações dos Países Baixos no Conselho Europeu desesperaram Itália e Espanha e provocaram uma resposta dura do primeiro-ministro
Amesterdão diz que os espanhóis devem ser investigados pela incapacidade orçamental, numa ideia “repugnante” para António Costa, preocupado com a ausência de uma resposta conjunta à crise
Não é a primeira vez que acontece, mas esperava-se que desta vez fosse diferente: a União Europeia mostrou a habitual divisão Norte-Sul e não chegou a acordo para uma resposta financeira conjunta à crise provocada pela pandemia da Covid-19. Itália e Espanha deram um murro na mesa e António Costa arrasou o ministro das Finanças dos Países Baixos, Wopke Hoekstra, que, no Conselho Europeu, sugeriu que a Espanha deve ser investigada pela falta de capacidade orçamental para reagir. Se, ao final da noite de quintafeira, o primeiro-ministro classificou essa postura de “repugnante”,
ontem reforçou as críticas. “Excedi-me? Estão a brincar comigo? Pretender resolver a pandemia na Holanda se não o fizer em Espanha ou Itália é não compreender nada”, respondeu António Costa, com um alerta: “A União Europeia ou faz o que tem de fazer ou acabará. A última coisa que qualquer político responsável pode fazer nestecenárioénãocompreender que a prioridade das prioridades é salvar vidas e combater este vírus.”
Sem acordo em relação aos “coronabonds”, emissão de títulos de dívida europeia – taxativamente rejeitada por Alemanha e Países Baixos –, Giuseppe Conte, primeiroministro de Itália, com o apoio do homónimo espanhol, Pedro Sánchez, ameaçou não assinar as conclusões da cimeira sem medidas concretas. Assim, os 27 deram 15 dias ao Eurogrupo para apresentar propostas que “têm de ter em consideração a natureza sem precedentes do choque que afeta todos os países [da UE]”.
A Covid-19 é que não espera e continua a massacrar Itália, que ontem teve o pior registo de morte em 24 horas: 969. São 9134 falecidos no total.
“A União Europeia ou faz o que tem de fazer ou acabará. A prioridade das prioridades é salvar vidas e combater este vírus”
António Costa Primeiro-ministro dePortugal