Guerra do “lay-off”
AVISO Belenenses e Chaves já avançaram, mas há outros clubes que ponderam fazer o mesmo e a ameaça começa a alastrar
Sindicato dos Jogadores questiona legitimidade e legalidade
“Atitude egoísta (...) É um abuso de direito, uma atitude oportunista dos clubes de futebol”
Comunicado Sindicato dos Jogadores
Lisboetas e flavienses assumiram oficialmente terem requerido o regime legal que o Sindicato dos Jogadores já condenou, mas há outros clubes em cima do muro e prontinhos a saltar
Belenenses e Chaves foram os dois primeiros clubes portugueses a assumir formalmente a entrada em “lay-off ”, mas outros ponderam seguirlhes o exemplo. O Estado definiu para as empresas em geral interessadas nesse mecanismo legal um regime simplificado para acelerar o processo, com os fundamentos exigidos a serem apreciados mais tarde, e os clubes acreditam que estão também abrangidos por essa simplificação, argumentando não só com uma quebra de receitas dentro dos parâmetros definidos para solicitar o apoio mas também, e acima de tudo, com o fim de atividade determinado pela interrupção dos campeonatos.
Segundo alguns jogadores ouvidos por O JOGO, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores (SJ), ter-lhes-á confidenciado dúvidas de que o Estado venha a aceitar os argumentos dos clubes que já avançaram, ou que venham a avançar, com os pedidos de “lay-off ”. No comunicado oficial divulgado ontem pelo SJ, em reação aos avanços efetuados, Evangelista lamentou a decisão, feita à revelia de negociações em curso com a Liga. “O Sindicato dos Jogadores condena, além desta falta de respeito para com os profissionais de futebol, uma atitude egoísta que lesa todos os portugueses, porquanto se pretende requerer os cortes salariais e os apoios da Segurança Social à semelhança da esmagadora maioria das empresas portuguesas em agonia. É manifestamente um abuso de direito, uma atitude oportunista dos clubes de futebol ao colocarem-se nesta posição”, lê-se.
O JOGO procurou uma reação de todos os emblemas das competições profissionais e, apesar de alguns terem manifestado reserva em comentar oficialmente o assunto, admitiram estar atentos, interessados eà espera de uma clarificação. Um movimentocon certado coma Ligaév isto como ideal por uma esmagadora maioria, até porque há nuances que justificam algumas hesitações. Os valores-limite definidos pelo regime de“layoff”(1905€i líquido sé o máximo) estão, numa escala ainda importante, bem abaixo dos contratos acertados entre clubes e muitos jogadores (embora seja preciso recordar queo “lay off afetará outros funcio
nários, e não apenas jogadores, com rendimentos bem mais modestos). Aliás, são tantas as complexidades que Vítor Franco, presidente do Casa Pia, até ironizou no testemunho dado a O JOGO. “Temos de levar três juristas para as reuniões”.
Outros emblemas, ao que apurámos, hesitam também em avançar para o “lay-off” por temerem que daí resulte um descontentamento dos atletas que possa comprometer aspirações desportivas quando as competições forem retomadas. Negociar ajustes salariais temporários, eventualmente compensados com acertos futuros, éa alternativa ponderada. Em todo ocaso, o estrangulamento financeiroé de tal ordem que ninguém coloca de parte o “lay-off ”, nem que seja à pressão. Ou maneira de pressionar. Os presidentes da II Liga tiveram ontem reunião por videoconferência agendada para entrar pela noite dentro à procura de uma resposta.
Jogadores do Belenenses sabiam desde a semana passada que o clube iria dar este passo, porque houve conversas, e foram agora notificados por email da decisão formal de avançar para lay-off parcial. O regime aplicável limita o ordenado máximo a 1905 euros ilíquidos