O Jogo

Não tem PlayStatio­n, rouba o wi-fi e vence torneio FIFA

Fali é central do Cádiz, da II liga. Disse coisas com piada e falou de sofrimento, mas “agora a cigana [com quem se casou aos 16 anos] vive bem...”

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Ganhou a prova da II liga e espera defrontar Asensio, vencedor de La Liga, mas gostava que o madridista também jogasse com o wi

fi do vizinho... Ah!, no dia em que marcar um golo compra um telemóvel

Fali, defesa-central do Cádiz, da segunda liga espanhola, foi o vencedor do torneio FIFA em PlayStatio­n, mas a verdade é que nem consola tem, fazendo fé no que disse, e toda a conversa tem uma componente de riso. Também não tem telemóvel e está à espera de fazer um golo para comprar um. Na qualidade de campeão, deu uma entrevista ao programa Tempo de Jogo, da Cadena Cope, e terá sido um momento divertido, a julgar pelas partes divulgadas pela imprensa espanhola. A consola emprestou-lhe o vendedor da fruta, o wi-fi roubou ao vizinho.

Rafael Jiménez Jarque, de 26 anos, conhecido por Fali, diz que a vida dele dava um livro ou um filme. Se fosse contada na primeira pessoa, teria piada. De certeza.

O jogador do Cádiz, líder da II liga espanhola, bateu na final Iván Jaime, do Málaga .“Ganhei o torneio FIFA sem consola, era do homem da fruta, sem wi-fi, ti vede roubara o vizinho, e com a televisão partida, porque antes do jogo a minha filha partiu a televisão com uma bolada. A ‘Play’ fo…-se e um rapaz que vende fruta e de quem me fiz amigo quando cheguei a Cádis emprestou-me a dele para terminar o torneio. Tenho mérito porque joguei afinal como Iván Jaime, que tinha vencido o campeão de Espanha.”

O torneio nem começou bem. Perdeu o primeiro jogo com o colega Nano Mesa, mas foi repescado por vontade do público e acabou a vencer a prova. “Fico muito nervoso, não vês que nunca marquei um golo na vida?, por isso, quando estou ali, emociono-me e ponho-me a relatar os jogos”, afirmou, contando ainda, a propósito de remates certeiros: “Se marcar um golo, compro um telemóvel, porque não tenho, nem redes sociais… Se me alongar [na conversa], vocês vão dizer: ‘De onde é que este saiu?’ O presidente disse-me para comprar um telemóvel, eles acham que estou maluco.”

Que Asensio também roube o wi-fi

Fali espera fazer um jogo com Marco Asensio (Real Madrid), vencedor do torneio FIFA para a I liga. “Vamos ver se podemos fazer um jogo. Para Asensio, é igual que se parta a televisão, deve ter cinco ou seis, mas espero que jogue em condições de igualdade, com o wi

fi do vizinho e que mude de PlayStatio­n.”

Sempre a abrir, contou uma passagem pelo Barcelona B, ele que estava no Nàstic e nem era muito utilizado. “Nunca tinha pensado em jogar numa equipa como o Barça e aceitei encantado. Cheguei lá, estávamos em últimos na Segunda B e, no balneário, havia música e toda a gente a dançar. Eu disse: ‘Que é isto, a dançar e em último…’ Assim que parti o aparelho, os chavalos ficaram a olhar para mim. Disselhes. ‘Isto não pode ser, senhores. Se houver aqui alguém que não corra, parto-o todo.’ A partir daí ganhámos sete jogos seguidos com a nossa baliza a zero e batemos o recorde de Guardiola e de Luís Enrique. Saímos da posição de descida e subimos no ano seguinte.”

O furgão pouco habituado a gasolina

Outra história: o primeiro contrato com o Nàstic. “Ligoume Emilio Viqueira e tive de ir a Tarragona. Fui no furgão do meu pai e nunca lhe tínhamos posto mais que cinco ou dez euros de gasolina, porque nos dedicávamo­s ao ferro-velho e os fretes eram curtos. Mandei encher o depósito e rebentou, o ponteiro deixou de sinalizar e não sabíamos se ia dar para ir de Valência a Tarragona [260 km] e voltar.” Mais: “Demorámos umas cinco horas para chegar lá. Quando o presidente e o diretor desportivo do Nàstic nos viram chegar com o furgão e saiu o meu tio, um cigano de dois metros com cabelo até ao cu e o emblema do Real Madrid tatuado nos gémeos, o presidente pergunta: ‘Quem c… são estes?’ e o Viqueira responde: ‘É o Fali, nova contrataçã­o do Nàstic.” Para regressare­m a casa, te vede pedir dinheiro emprestado para as portagens.

Antes do futebol: “A minha vida dava um filme ou um livro. Sofri muito, o que me tornou mentalment­e forte. Por isso têm de me matar antes de me tirarem os três pontos no futebol. Casei-me aos 16 anos, fui pai aos 17, porque nós, os ciganos, casamo-nos muito cedo. A minha mulher tinha 14. Tenho 26 anos mas parece que tenho 35, sofri muito na vida até que cheguei ao Cádiz e o presidente me renovou o contrato. A minha mulher não me larga, agora vive bem, a cigana…”

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Fali contou histórias de vida

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